Ver uma adaptação cinematográfica de Edith Warthon é sempre uma experiência enriquecedora. Autora de livros como "Ethan Frome" e "A época da inocência", a autora estadunidense , nascida na segunda metade do século XIX, colocou o dedo bem fundo em feridas doloridíssimas. Independente do meio escolhido , Wharton revelava uma sociedade em que era impossível se viver com um mínimo de espontaneidade. Não havia saídas para a paixão ou para qualquer outra coisa que fugisse ao script social. "A época da inocência" , que nada de inocente tem e "A essência da paixão" se centram nas camadas mais abastadas. Em "Ethan Frome" centra-se em personagens pobres e socialmente obscuros , mas nem por isso menos escravos das regras sociais. Em todos eles há um forte senso de crueldade bem delineado, pois além das restrições e hipocrisias sociais, até mesmo os personagens mais frágeis e vitimizados são capazes de manipular e transformar sua dor em moeda de troca. Em "A essência da paixão" fica clara a ideia de que no contexto apresentado qualquer passo em falso era fatal. A protagonista , apesar de sedutora , é uma moça sem recursos e muito ingênua , que é socialmente destruída por causa da lascívia e da maledicência de figuras ilustres da sociedade. Porém, ela não é totalmente inocente, pois brinca com o poder , subestimando sua força destrutiva. Com belas imagens e um clima suavemente erótico e perverso, "A essência da paixão" tem como ponto alto o amor entre os personagens de Gillian Anderson e Eric Stoltz, revelando que mesmo em uma sociedade marcada pela hipocrisia e pelos jogos de poder de uma classe frívola e cruel, sentimentos como o amor e a renúncia podem acontecer. Talvez , o mais belo momento do filme seja quando Lily pede a Lawrence que nunca deixe de amá-la , mas que nunca declare seu amor a ela. Soou complicado? Um filme intenso, cruel , esteticamente belo e tematicamente poderoso.