Minha conta
    Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo
    Críticas AdoroCinema
    0,5
    Horrível
    Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo

    Duro de assistir

    por Francisco Russo

    Por mais que este seja um filme realizado com seríssimas restrições orçamentárias, tendo saído do papel apenas devido à força do financiamento coletivo, é difícil compreender certas escolhas feitas pelo diretor André Marouço. A primeira delas se refere à opção pelo docudrama para contar a história de Paulo de Tarso, o que resulta em um filme bastante esquizofrênico em relação à narrativa e estética: se o lado documental envereda firme pela narração em off entremeada por entrevistados e imagens dos locais retratados, o lado ficcional destoa com interpretações ora exageradas ora inexpressivas em um cenário em chroma key repleto de deficiências técnicas. Difícil levar a sério, por mais que o assunto retratado o seja.

    A proposta de Paulo de Tarso e a História do Cristianismo Primitivo é até digna: trazer à tona a jornada enfrentada por um dos principais seguidores de Jesus Cristo após sua morte, narrando não só sua conversão mas, especialmente, sua peregrinação por boa parte da Ásia e também Grécia e Roma, na época o centro do mundo. Para tanto, Marouço opta pelo didatismo extremo, a partir de uma narração burocrática em linguajar antiquado, que afasta o espectador não só pelo ritmo dado mas, especialmente, pelo modo como tais informações são apresentadas. Soma-se a isso a confusa linha de raciocínio adotada, sem delimitar uma linha temporal clara nem mesmo a própria transformação de Saulo em Paulo, apresentada aos solavancos, ou mesmo ao confundir informações históricas com crenças religiosas, o que é também altamente questionável.

    Para dar alguma sustentação visual ao que é dito, o diretor insere um punhado de cenas aleatórias sobre os locais citados na narração, variando entre a contemporaneidade das imagens - o que soa inútil, já que em nada combina com a época relatada - e o binômio destroços/paisagens - que também pouco acrescenta, pelo desconhecimento absoluto em relação aos locais citados e o desinteresse do filme em ir além da mera citação. Até seria possível ressaltar o esforço feito em visitar tais locais para gravar as cenas exibidas, mas os créditos finais ressaltam que boa parte do material veio através da própria internet. Ou seja, nada além do trabalho feito em uma mesa de edição qualquer, editando imagens alheias. Isso sem falar na óbvia literalidade do exibido com o dito, subestimando a capacidade do espectador em fazer qualquer tipo de analogia.

    Entretanto, por mais que o trecho documental traga variados problemas na condução da história, ainda assim é de longe o que há de melhor no filme. É impressionante a pobreza do trecho ficcional, escancarada em absolutamente todos os momentos em que atores surgem em cena, seja a partir do tosco (e muito questionável) blackface feito por Alexandre Galves ou mesmo da artificialidade em qualquer interpretação. Mesmo Caio Blat surge exageradíssimo, em suas duas únicas cenas em todo o longa-metragem. Atenção especial à ridícula sequência do garoto caindo da janela, errada tanto do ponto de vista narrativo quanto de execução, técnica ou de interpretação.

    Em meio a tantos equívocos, nada resta a Paulo de Tarso do que a completa irrelevância. Mesmo os interessados em louvar na sala escura enfrentarão dificuldade em se conectar com o longa-metragem, tantos são os elementos que afastam o espectador do conteúdo apresentado. Péssimo filme, que não apresenta a contento a história desejada e ainda desvia seu curso de forma absolutamente tendenciosa, apenas para ressaltar uma suposta perseguição de cristãos por grupos extremistas muçulmanos sem apresentar qualquer prova ou indício que não seja a mera narração em off.

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top