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    Depois do Fim
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Depois do Fim

    Paralelos entre passado e presente

    por Barbara Demerov

    Parte das razões pelas quais alguns lugares nos marcam de maneira singular - e por muito tempo - se devem pelo fato de que eles serviram de palco para nosso desenvolvimento como pessoa ou profissional. Uma escola, uma casa, um prédio... São inúmeros os locais capazes de nos deixar emocionalmente conectados, não importa o tempo que passe. Em Depois do Fim, vemos um destes exemplos através das memórias de Evaristo de Moraes, ex-ferroviário que presenciou a época de glória e a época de descaso para com os trilhos que tanto marcaram sua vida.

    Adentrando numa abordagem introspectiva e extremamente reflexiva com imagens das vias abandonadas, ao mesmo tempo em que a narração com as palavras de Moraes soa contrastante à falta de vida que permeia por aqueles espaços atualmente, o documentário de Álvaro de Carvalho Neto traz as dualidades que podem fluir a partir das memórias pessoais de alguém que viu tudo acontecer. O depoimento sobre sua infância, o amor do pai pelas mesmas ferrovias e o destaque dado à importância de cada trajeto do Rio Grande do Sul fluem em conjunto com sua própria revisita a algumas das estações abandonadas.

    Entre sons de trens e das "Marias Fumaça", é possível ouvir também o silêncio que se costura às palavras ditas pelo protagonista nonagenário: um silêncio que estabelece o paralelo direto entre os tempos em que este era o meio de transporte mais importante do Brasil e os dias atuais, em que os mesmos caminhos que levavam pessoas, mantimentos e objetos já não possuem qualquer tipo de função a não ser simplesmente servirem de reminiscência aos dias passados.

    Aliado à introdução da discussão sobre a não-utilização de ferrovias, existe uma camada pessoal em Depois do Fim, pois Moraes divaga sobre finitude da própria vida ao estabelecer uma conexão com o fim das ferroviárias. A direção de Carvalho Neto destaca bem a estrada interna que também necessita ser contada - até para dar mais ênfase ao fato de que as ferrovias mudaram vidas positivamente não só para meios comerciais como também impulsionaram paixões individuais.

    A proposta do diretor em falar sobre a velocidade com que as coisas podem ir e vir - de forma figurativa e literal -, assim como o fato de que algo esquecido por todos ainda pode ter a chance de se manter de certa forma vivo devido às lembranças daqueles que ainda estão aqui, é admirável. Contudo, não é em todos os momentos em que a história do protagonista conversa com o cenário que Carvalho Neto aborda com delicadeza. Faltam mais informações e aspectos sociais e/ou políticos inseridos na narrativa, mas nada disso afeta o resultado como um todo: ainda assim, a obra é um belo lembrete de que, para existir, basta lembrar.

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