O afeto que nos move
por Barbara DemerovNo cinema, do que uma história de amor precisa para se tornar marcante a quem a acompanhe do outro lado da tela? Sua grandeza pode ser delimitada pelos pontos de virada da narrativa, diversas locações espalhadas pelo mundo e atuações dedicadas, ou tudo se resume a como uma mesma história pode ser contada de inúmeras formas? Mostrando o tanto que pode existir de grandioso no que é aparentemente trivial e transformando passagens simples da vida em questionamentos cheios de sentimento, Enquanto Estamos Aqui apresenta uma dessas possibilidades.
Através de narrações e imagens que apresentam os locais em que os protagonistas Wilson e Lamis passam enquanto namorados, sem que o espectador veja qualquer tipo de expressão visual ou até mesmo suas vozes – são raríssimas as vezes em que é possível ver suas faces. Tudo isso com um background social focado em duas pessoas completamente diferentes situadas em um local teoricamente que poderia abraçá-los por ser uma metrópole dos sonhos, mas que na realidade não o faz.
Wilson é um brasileiro e morador de Nova York há anos de forma ilegal e Lamis é uma imigrante libanesa que busca ter uma vida completamente diferente da que deixou para trás. Entre ambos, existe uma ponte de amor, afeição e compreensão que transcende os problemas cotidianos destas pessoas que vivem de forma arriscada, como, por exemplo, no trabalho forçado que não rende muitos resultados e na absoluta saudade de casa.
Com uma trama que mescla um romance sincero com questões sérias e que trazem reflexão facilmente, é surpreendente o modo como o filme flui de maneira tão próxima para com quem ouve os relatos do casal (e também da mãe de Wilson) sem que seja necessário muitos elementos rebuscados. A narrativa se passa em período linear e a mistura de ficção com documentário o transforma numa espécie de diário de viagem. Todas as narrações trazem as emoções necessárias contidas no texto, mas especialmente é com Grace Passô, na pele de Lamis, que sentimos mais a dor, a felicidade e a aceitação de estar onde está.
Todos os percalços pelos quais o casal passa (internos e externos) são contados de maneira tão natural e breve assim como é a vida, tornando Enquanto Estamos Aqui um reflexo das vivências humanas. Assistir às passagens corriqueiras de pessoas no metrô ou andando na rua enquanto as palavras dos narradores se destacam na tela traz uma sensação de universalidade muito forte – não importa, afinal, se é um metrô de NY ou São Paulo. Aos pequenos encantos e desencantos da vida, Clarissa Campolina e Luiz Pretti prestaram uma belíssima homenagem.