Uma excelente sequeência! Para este filme temos que fazer algumas análises fundamentais. Aqui o aclamado diretor Ridley Scott assume e conta os fatos que ocorreram 7 anos após os acontecimentos do clássico "O Silêncio dos Inocentes" e já mostra Hannibal Lecter, o canibal, vivendo livremente e trabalhando em uma biblioteca de Florença. Paralelamente na
América, Clarice Starling enfrenta uma série de operações fracassadas lideradas por ela e tem sua carreira no FBI indo de mal a pior, a antes aclamada salvadora da filha da ex-senadora americana, agora vive sob pressão pública pelo fracasso de suas últimas operações. Aí vemos então o pedófilo Mason Verger, o único sobrevivente de Lecter, mas que acabou todo desfigurado após ter seu rosto dilacerado, tem muita influência política e não pensa em outra coisa a não ser se vingar do canibal e para isso conta com a ajuda de Thomas Krendler para conseguir seu objetivo e posteriormente ainda vê Clarice como uma isca para ficar ainda mais perto de seu objetivo.
Neste filme podemos presenciar um maior ar de sofisticação, de classe e são justamente essas características em contraponto com a maior violência e cenas chocantes que tornam esta obra tão atraente e peculiar. Pela inteligência, classe e requinte de Hannibal seria difícil imaginar outro país que não fosse a Itália, tão circundada de história, de obras de arte, de ópera e cultura em geral.
Este filme é mais violento e mais visceral do que os demais que envolvem o personagem e acentua ainda mais a sua inteligência, frieza e sarcasmo que nos foi passado mais uma vez com extrema competência por Anthony Hopkins, dominando ainda mais o personagem e que merecia mais uma vez no mínimo uma indicação ao Oscar de melhor ator. Vemos aqui que ele em nenhum momento deixou de pensar em Clarice Starling e que nutre uma atração e fascínio cada vez maior por ela, ao ponto de ele salvá-la em determinado momento e posteriormente cuidou de seus ferimentos. A impressão que nos passa é que o encontro com Clarice após tantos anos era o que ele mais esperava. Clarice dessa vez foi interpretada por Juliane Moore que se saiu muito bem conseguindo passar esse outro momento de sua vida profissional (a decadência) e também o desejo intrínseco de se encontrar com Hannibal novamente para prendê-lo ou apenas para vê-lo. É claro que seria melhor que Jodie Foster, ganhadora do Oscar pelo mesmo papel no filme anterior, reprisasse seu papel. Jodie alegou que não concordava com o rumo de sua personagem nesta sequência, especialmente no grande final do livro, mas que no final das contas acabou sendo alterado no cinema com permissão do autor do livro Thomas Harris. Na impossibilidade de contar com Foster, que fez falta sem dúvida pois marcou a personagem com seu rosto eternamente, Juliane Moore além de ter uma estrutura física parecida, tem também muito talento e ao meu ver se saiu bem mesmo carregando a responsabilidade de substituir a vencedora do Oscar pela mesma personagem. A tensão sexual entre Hannibal e Clarice se intensifica bem nesta obra apesar de terem poucas cenas juntos. É importante destacar tambéma a participação de Gary Oldman como Mason Verger e Giancarlo Giannini como o policial Pazzi. As investigações paralelas e pistas deixadas por Lecter para Clarice que iam e vinham entre Itália e EUA vão costurando todo o suspense com pertinência e é interessante ver o desenrolar da trama especialmente a partir do momento que Pazzi descobre que o bibliotecário se tratava de um dos assassinos mais procurados do FBI.
Ridley Scott transita aqui em um gênero não tão comum em sua carreira (suspense), apesar de que "Alien- O 8ª Passageiro" contém muito suspense dentro da ficção científica. Scott soube mesclar o suspense em lugares distintos do planeta e juntar tudo no momento certo em um final maravilhoso, apesar de diferente do livro por Scott considerar que o final era infilmável. A verdade é que nós leitoires esperamos sempre que a obra seja o mais fiel possível à sua mídia original, o livro neste caso, mas também é compreensível as adaptações que às vezes soam necessárias ao transpor a obra de uma mídia para outra. Seria melhor ver Clarice e Hannibal juntos e apaixonados vivendo na Argentina assistindo uma bela ópera,seria de fato um final apoteótico e surpreendente. Mas a alternativa do filme também é muito boa e plausível pois mostra a relação dos dois mas com um final mais convencional e menos "chocante" mas ainda assim imprevisível. Fora o final, poucas mudanças foram feitas e mais uma vez temos aqui um livro adaptado com extrema competência para deleite dos fãs da série.
Outros elementos estão ali presentes também como a inesquecível máscara facial de Hannibal, além de cenas marcantes e até "indigestas". Vemos cenas bem feitas e muito reais de um ataque de animais à pessoas em uma cena memorável que culmina com Hannibal levando Clarice nos braços. Temos ainda a cena da morte na sacada da biblioteca com os intestinos para fora, além da cena da degustação de cérebro num jantar especial de Hannibal com seus convidados de honra. Não são tantas cenas de impacto, mas as poucas já valem o filme todo. O nível de suspense das cenas te deixa tenso e tudo é muito bem conduzido por uma trilha primorosa do mestre Hans Zimmer que usou e abusou do clássico e de ritmos de ópera italiana, elevando o suspense à um outro nível. Não podemos deixar de citar a ótima fotografia e direção de arte, especialmente nas cenas na Itália com excelentes tomadas e posicionamentos de luz ressaltando ainda mais o suspense e tensão.
Vemos aqui um filme mais artístico, mais violento e muito bem adaptado para as telonas através do roteiro de David Mamet e de Steven Zaillian. O filme apresenta novas situações e não tem a ameaça e medo que tinhamos de Lecter mesmo preso, mas o apresenta livre e com mais "cartas na manga" e com liberdade para agir. Muita gente diz que este filme é inferior à "O Silêncio dos Inocentes" e eu até concordo por não apresentar tantas reviravoltas assim, apenas em seu final, além de não te deixar tenso o tempo todo e revolucionar o gênero.
Em Hannibal o ritmo do filme em sua primeira metade é lento e poucas coisas importantes de fato ocorrem, diferentemente do anterior em que a construção do suspense foi muito mais real, dinãmica e mais ameaçadora com várias reviravoltas. Porém Hannibal é sim uma ótima sequência e que deve ser conferida por todos. Se trata de um ótimo suspense com cenas marcantes. Gostei muito, acho uma sequência imperdível e digna de "O Silêncio dos Inocentes"!!