Este, a meu ver, foi o melhor filme já criado em toda a História do Cinema, inegavelmente o mais inteligente e o de maior dificuldade de compreensão. Falar sobre ele, acarretaria um monte de páginas, ou mesmo um livro, ou então algumas noites de bate-papo com amigos que tentaram entendê-lo. Digo “tentaram”, porque quase nunca o espectador o consegue nas primeiras vezes e no fim é obrigado a repetir o filme diversas vezes, a ler o livro e a falar com outros sobre seu entendimento a respeito. Arthur C. Clarke, um dos maiores escritores de ficção científica dos nossos anos, associou-se a Stanley Kubrick, um dos maiores diretores de cinema de todos os tempos, na realização deste filme, que é uma verdadeira odisseia. Arthur Clarke ficou assim responsável pelo roteiro junto a Kubrick e o livro foi sendo escrito paralelamente ao roteiro e nenhum é melhor do que o outro: ambos de completam. Se o livro é mais explicativo, de mais fácil compreensão, o filme é mais interrogativo e dá aquele show de visual, sobretudo se levarmos em consideração a época em que foi realizado. Mais de quarenta empresas de eletrônica foram convocadas e consultadas, inclusive a IBM e os autores viveram algum tempo na NASA, para pegar alguns detalhes técnicos. Basta dizer que o módulo que o Homem usaria para chegar à lua um ano depois, foi mostrado neste filme. A fotografia é sensacional e um dos momentos mais emocionantes e antológicos é aquele em que o homem-macaco (o elo perdido de Darwin) atira para o ar a tíbia de um animal abatido e ela se transforma numa nave espacial, dando um salto da pré-história para o futuro. Como se isso não bastasse, tudo é visto ao som de músicas de Johan Strauss e Richard Strauss, com destaque para “Assim falou Zarathustra” e “Danúbio Azul”. Um computador ensandecido e dominante levanta o debate do homem sendo dominado pela máquina, no caso o então fantástico computador HAL-9000. Pela espantosa perfeição dos Efeitos Especiais, este filme ganhou merecidamente um Oscar e esses efeitos (parece-me que foram os primeiros a utilizar a computação gráfica) revolucionaram o gênero cinematográfico da ficção científica, constituindo-se num importante marco do cinema. Foi indicado também para o Oscar de Melhor Maquiagem, ganho por outro filme que mostrava macacos, o também cultuado “Planeta dos macacos”. Foi dito na ocasião que os macacos de “2001” mais se assemelhavam a humanos. Os infelizes críticos que disseram esta asneira não entenderam que, na realidade, aqueles animais eram homens-macacos, portanto deveriam ter características dos dois ramos em que se dividiriam. Outras indicações foram para os Oscar Melhor Diretor, Melhor Direção de Arte e Melhor Roteiro Original. A história é baseada num conto de Arthur C. Clarke intitulado “A Sentinela”, que conta a história do monolito achado na lua. O monolito negro também foi amplamente discutido por críticos e aficcionados e foi até comparado com Deus, como algo inatingível e incompreendido pelo Homem. É praticamente impossível entender-se e “penetrar” no filme na primeira vez em que é visto e dificilmente será compreendido mesmo se assistido várias outras vezes. O melhor mesmo é recorrermos ao livro (mais explicativo) para depois reassistirmos ao filme diversas vezes. Aí, talvez, consigamos “começar” a compreendê-lo. E, cada vez que o assistimos, vemos pontos diferentes, descobrimos que há sempre algo de novo e podemos mudar nossa compreensão de alguns fatos ou mesmo começar a entendê-los. E cada espectador terá, por certo, sua maneira de ver e, assim sendo, seu grau de compreensão e seu ponto de vista serão diferentes daquilo que outros espectadores veem e sentem. Aqui, neste DVD, temos algo diferente do filme original: a apresentação completa de “Danúbio azul” ao final, que se continua após o fim, mesmo depois que os créditos terminam. Além disso, temos uma música que antecede o início do filme propriamente dito, ouvida sem imagens