Keanu Reeves no modo mais insano da franquia
por Bruno BotelhoJohn Wick é uma das franquias de ação mais populares da atualidade, estabelecendo um novo padrão para as produções do gênero em Hollywood na última década por causa de suas cenas bem coreografadas de lutas e tiroteios. Depois de um tempo longe dos holofotes, Keanu Reeves foi apresentado no papel do protagonista em John Wick - De Volta ao Jogo (2014) e retornou para as sequências John Wick - Um Novo Dia para Matar (2017) e John Wick 3 - Parabellum (2019), assim como o novo John Wick 4: Baba Yaga (2023), com a promessa de elevar ainda mais as apostas. Mas, eles conseguiram isso?
Enquanto a recompensa por sua cabeça aumenta de preço rapidamente, John Wick (Keanu Reeves) terá que superar os adversários mais mortais e violentos do submundo, enfrentando a Alta Cúpula de Nova York a Paris, de Osaka a Berlim. Nos eventos de John Wick 4: Baba Yaga, o protagonista descobre um caminho para finalmente derrotar a Alta Cúpula e finalmente conseguir sua tão sonhada liberdade.
Porém, suas chances de escapar desta vez parecem quase impossíveis, pois seu maior inimigo está surgindo. Com poderosas alianças, o implacável chefe do submundo Marquis de Gramont (Bill Skarsgård) é uma força capaz de transformar velhos amigos em inimigos perigosos, então representa a maior e sanguinária ameaça até hoje.
O quarto filme começa de onde parou os eventos anteriores de Parabellum, após John Wick ser traído e gravemente ferido por Winston (Ian McShane) e secretamente entregue ao Bowery King (Laurence Fishburne). Por isso mesmo, Wick ao lado de King prepara sua vingança à Alta Cúpula, mas isso não será tão fácil quando ele precisa enfrentar sua ameaça mais perigosa. Bill Skarsgård é apresentado como o chefe desse submundo, Marquis de Gramont, e, por causa de sua posição de comando, ele tem à sua disposição todos os recursos necessários para aumentar ainda mais essa perseguição contra John Wick.
Depois de ser caçado ao longo de três filmes, o personagem de Keanu Reeves está correndo mais riscos do que nunca e, naturalmente, apresenta os sinais de cansaço. Mesmo assim, ele ainda resiste contra essas ameaças perigosas lutando por sua vida como uma espécie de “entidade assassina” imparável. Isso fica explícito na atuação de Reeves que, mesmo que tenha poucas falas e seu personagem demonstre essa exaustão por todos os acontecimentos, ainda permanece com sua fisicalidade para acabar com todos.de uma vez por todas. O público compra facilmente por tudo que acompanhamos dele.
O curioso universo da Alta Cúpula foi desenvolvido e expandido aos poucos, saindo do Hotel Continental e partindo para o mundo todo, então John Wick 4 aproveita para ainda apresentar novas características e códigos de toda a organização, mas desfruta da possibilidade de colocar ainda mais assassinos na cola de John Wick. Shimazu (Hiroyuki Sanada) e Caine (Donnie Yen) são os personagens mais interessantes, pois transitam com complexidade entre aliados e inimigos, enquanto Killa (Scott Adkins) se trata do capanga durão na história. Akira (Rina Sawayama) é outra que rouba a cena quando aparece, com carisma e ótimas cenas de combates corporais. E ainda temos os retornos de Bowery King (Laurence Fishburne), Winston (Ian McShane) e Charon (interpretado pelo recém-falecido ator Lance Reddick), sempre importantes.
Progressivamente, os filmes da franquia foram deixando a verossimilhança de lado, principalmente nas resistências (e sobrevivências) mais improváveis do protagonista – não importando quais sejam os danos físicos que ele enfrente contra seus inimigos.
Neste quarto capítulo, é preciso mais do que nunca comprar a ideia desse universo e do personagem principal para se divertir, acima de tudo com as cenas de ação – que, novamente, são o destaque. John Wick 4 não está preocupado em fazer sentido a todo instante, mas em apresentar as sequências mais grandiosas, elaboradas e até exageradas como entretenimento.
Antes de assumir a direção dos quatro filmes de John Wick, Chad Stahelski atuava como dublê e coordenador de dublê em diversas produções de Hollywood. Desta forma, ele levou sua longa experiência para as cenas de ação da franquia, deixando sua marca registrada logo de cara com o primeiro capítulo De Volta ao Jogo (2014) – filme que definiu o cinema de ação nos últimos dez anos por causa de suas sequências de ação elegantes e cuidadosamente coreografadas. Conforme as continuações foram sendo lançadas, elas naturalmente aumentaram ainda mais as apostas e o escopo da narrativa.
O mais impressionante é que John Wick 4: Baba Yaga consegue elevar esse nível altíssimo, com algumas das melhores cenas de ação presentes na franquia. Stahelski parece ainda mais confortável para brincar com todos os elementos característicos dos filmes anteriores para colocá-los em potência máxima, e com diversidade, dentro da narrativa, que funciona novamente como uma progressão de fases de videogame.
O personagem de Keanu Reeves percorre diferentes locais ao redor do mundo neste filme, o que fornece ao diretor a possibilidade de trabalhar com diferentes cenários na montagem.
Ele está pelos desertos de Casablanca, os palácios luxuosos de Paris, os clubes subterrâneos de Berlim e as ruas neon de Osaka, o que torna esse novo filme o mais grandioso e deslumbrante visualmente de toda a saga. Chad Stahelski aproveita a fisicalidade de Keanu Reeves em cada particularidade de cenário, explorando o leque de diferentes estilos e formas insanas de cenas de ação enquanto o público observa o implacável John Wick atirando, esfaqueando e, até mesmo, queimando todos os seus inimigos.
Por isso, temos algumas das cenas de ação mais difíceis e elaboradas da franquia John Wick, com destaque para a sequência do carro no trânsito do Arco do Triunfo, do clube subterrâneo de Berlim e uma tomada aérea dentro de um apartamento. Isso é um diferencial bem importante para o filme. Fica nítido o quanto esses locais são diferentes e, consequentemente, rendem momentos diversos (e um tanto criativos) na produção com coreografias do mais alto nível no cinema atual de Hollywood e combates corpo a corpo mais viscerais do que nunca na franquia.
Não poderia deixar de mencionar a cena escadaria na Sacré-Cœur durante o ato final, uma cena extenuante e repleta de enfrentamentos enquanto o protagonista tenta superar os obstáculos subindo os degraus. Mais do que isso, toda a construção final dialoga como um emocionante arco de redenção para o protagonista – e deixa possibilidades em aberto para o futuro.
No final das contas, John Wick 4: Baba Yaga chega ao padrão mais alto do cinema de ação hollywoodiano, com sequências criativas explorando diferentes cenários ao redor do mundo, ao mesmo tempo que elevam ainda mais o nível de elaboração das coreografias e combates corporais. Por mais que sua história seja de certa forma um repeteco do que já vimos anteriormente, esse quarto filme é divertido e brutal, um verdadeiro deslumbre para os fãs do gênero, com quase três horas de muita pancadaria e tiroteio que estabelecem um novo nível (difícil de ser superado) na franquia estrelada por Keanu Reeves.