Quase um bottle movie pela sua ambientação restrita. Contudo, diferente do costumeiro em situações limitadoras como esta, o filme não se dedica a diálogos elaborados. O roteiro, na verdade, parece até simplório no sentido de texto e dramaturgia. Com isso, Shyamalan se dedica a uma mise-en-scène que assume, desde cedo, uma ingenuidade que faz muito bem ao filme.
Ao negar o distanciamento de sua narrativa, e inserir o espectador de modo incômodo dentro de situações pouco claras, o diretor demonstra seu apreço pela experiência sensorial de seu filme, em detrimento de uma trama com localizações, causas e consequências mais evidentes. Seus personagens até verbalizam muito essa busca por uma racionalização do que acontece em tela, mas isso acaba sendo muito bem sufocado pela repercussão imediata de acontecimentos extremos.
A decupagem do filme é essencialmente desenvolvida através dos planos fechados e angulações contraintuitivas, no sentido de que alguns enquadramentos até parecem errados se levarmos em consideração um formalismo mais clássico. Pelo modo como sua decupagem foge do esperado, o Shyamalan consegue articular formalmente a perturbação por conta das situações confusas. Sentimo-nos incomodados não só pela tensão do absurdo, mas também por como essa planificação não parece seguir preceitos claros.
O poder da sugestão torna-se muito forte aqui, especialmente no encadeamento entre voz extracampo e enquadramento que revela pouco. A sequência de mudança das crianças é a mais forte nesse sentido, pois consegue uma suspensão do choque, um adiamento da revelação perturbadora, através de planos-detalhe, angulações furtivas e movimentações fora de foco que ampliam gradualmente as sugestões advindas do som.
Mas essa deslocalização perturbadora não perde de vista a premissa que impulsiona o filme: a fugacidade do tempo num cenário que por si só já levanta reflexões. O filme consegue alternar muito bem momentos contemplativos, espécies de aceitação do absurdo, com alterações bruscas de ritmo devido a situações repentinas. Seus movimentos rápidos de câmera, ao mesmo tempo que concretizam a simultaneidade das ações e reconfiguram o foco do espectador, ampliam o sentimento de fugacidade de um tempo que escorre como areia entre os dedos dos personagens.
Acaba sendo curioso como a trama aborda essa questão de cobaia humana, de personagens que estão sendo observados à distância (pelo próprio diretor), mas formalmente ele não busca distanciamento algum. É nesse sentido que retomo o que sugeri sobre uma ingenuidade de Shyamalan, o que na verdade é uma característica bastante comum da filmografia do diretor. Shyamalan recusa frontalmente o olhar distanciado do cientista. Ao invés disso, seus filmes são a entrega total, quase religiosa, à vivência humana com o fantasioso/sobrenatural. Toda a discussão moral que potencialmente surge desse experimento no qual os personagens são inseridos torna-se menos relevante em face à proximidade cênica que o filme adota. Nossa experiência quanto espectador acaba sendo a mesma dos personagens, olhando para pontos brilhantes na colina distante à praia.