SOMBRAS DE FELICIDADE
Nesses últimos dias antes do aniversário de Cristo, nada melhor do que uma maratona de filmes natalinos. Entre eles, “Um homem de família” (2000) é um dos meus favoritos. Embora feito quando as Torres Gêmeas seguiam de pé e o marco ainda era a moeda alemã, não envelhece.
Disponível no Globoplay, o filme conta a história de Jack Campbell (Nicolas Cage) que, na juventude, ao escolher embarcar rumo à Londres para um intercâmbio que lhe daria muitas oportunidades, abre mão de um futuro com sua namorada Kate (Téa Leoni). Anos depois, ele se torna um milionário, porém solitário, executivo. O detalhe é que ele não é retratado como um infeliz, mas como alguém entorpecido por suas conquistas. Então, após tentar convencer um homem a buscar uma vida melhor, este lhe provoca perguntando se ele próprio não precisaria ser salvo. Campbell diz que não, afinal, “tem tudo o que precisa”. Como um passe de mágica, após adormecer na noite do dia 24 de dezembro no seu luxuoso apartamento em Manhattam, ele acorda no dia 25 na vida que teria tido se não tivesse ido à Londres: ao lado de Kate e despertado por seus dois filhos e um cachorro em uma típica casa de subúrbio.
Como dito, Jack não é descrito como alguém infeliz ou insatisfeito. Pelo contrário: ele vibra com a vida que tem. No entanto, essa felicidade é apenas um reflexo das sombras da caverna onde vive, pois aquela que reside do lado de fora é verdadeira e sem qualquer necessidade estética. É a sabedoria do Mito da Caverna de Platão. Em vez de apostar no clichê riqueza = infelicidade, ele exibe a dicotomia felicidade x felicidade transcendente. Enquanto o conceito de felicidade que Jack tem na sua vida de Manhattam foi construído com dólares, luxos e prazeres, aquele do Jack suburbano é baseado em amor e sacrifício não em seu favor, mas de sua família e de quem ama.
Nesse natal, assistam a “Um homem de família” e lembrem-se de que até mesmo a sensação de felicidade, por mais real que pareça, de repente seja apenas uma sombra exibida na escuridão da caverna de suas almas, e que a felicidade profunda, desnudada e transcendente talvez se encontre na Verdade ignorada no lado de fora dos seus corações.
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