Os Olhos de Tammy Faye (The Eyes of Tammy Faye)
Os Olhos de Tammy Faye é uma cinebiografia dramática dirigido por Michael Showalter, baseado no documentário de 2000 de mesmo nome de Fenton Bailey e Randy Barbato de World of Wonder. O longa conta a história de Tammy Faye Bakker (interpretada por Jessica Chastain), desde seu humilde começo crescendo em International Falls, Minnesota, até a ascensão e queda de sua carreira de televangelismo e casamento com Jim Bakker (interpretado por Andrew Garfield). O roteiro é escrito por Abe Sylvia, enquanto Jessica Chastain também é um dos produtores do filme.
Assim como no filme "Being the Ricardos", onde tínhamos a cinebiografia de Lucille Ball, aqui temos a cinebiografia de Tammy Faye, o curioso é o fato de eu não conhecer ambas personalidades e suas respectivas histórias. Dito isto, da mesma forma como eu analisei "Being the Ricardos" vou analisar "Os Olhos de Tammy Faye" unicamente pela minha experiência com o filme, sem afirmar se os acontecimentos ocorreram corretamente na ordem cronológica, se teve veracidade nos fatos contados da vida de Tammy e Jim, até porque sem conhecer a história real, fica difícil apontar se a forma como Michael Showalter decidiu contar a história da vida do casal está certa ou errada.
O longa se dividi em duas partes, na primeira hora temos a melhor parte de todo o filme, pois é nela que começamos a conhecer a vida de Tammy Faye ainda criança. Começamos a acompanhar a criação de Tammy, a forma como seus pais moldava a sua cabeça em relação a religião e a igreja, toda sua curiosidade em descobrir o que as pessoas faziam reunidas nas pequenas igrejas. Logo após temos o começo do envolvimento de Tammy e Jim nos anos 60 (por sinal uma parte maravilhosa de Jessica e Andrew), passamos a acompanhar o casamento e a forma como eles começaram a galgar no meio religioso, utilizando-se das pregações de Jim e as apresentações dos bonecos de fantoches de Tammy para chamar a atenção das crianças, que por sua vez chamaria a atenção dos pais para frequentarem as igrejas. Juntamente com a primeira gravidez de Tammy, que viria logo na sequência.
Na segunda parte do filme temos a criação da PTL Club, se tornando a maior rede de transmissão religiosa do mundo. O que viria a elevar a Tammy Faye ao posto de maior apresentadora gospel da TV norte-americana. Mas também nessa segunda parte temos a mudança no tom do filme, que inicialmente era leve e extrovertido, agora já era tenso e pesado, pois começamos a acompanhar a queda da televangelista e de seu marido nos anos 70 e 80, começaram aparecer as primeiras infelicidades no casamento, às traições, os escândalos sexuais, os rivais, a imprensa e as irregularidades fiscais. Definitivamente acompanhamos da ascensão a queda do casamento e do império de Tammy Faye.
O longa de Michael Showalter é muito bom, é muito gostoso de acompanhar, pois toda a história da Tammy Faye é contada de uma forma completamente acertada, sendo leve e tensa nos momentos corretos, conseguindo nos imergir na trama e nos simpatizar pelo casal. Com um destaque mais do que merecido para o trabalho de maquiagem e cabelo, que estão completamente estonteantes. Tammy sempre se destacou pelas suas maquiagens, seus penteados, seus cílios, nada mais justo do que a sua cinebiografia acertar em grande estilo nessas qualidades técnicas. Outro ponto a destacar no trabalho de maquiagem, a forma como o casal eram envelhecidos de acordo com o passar dos anos - magnífico! A direção de arte e a cenografia estão soberbas, impossível não nos maravilharmos com os belos cenários que compõem o longa, muito bem montados, muito bem projetados, com objetos de cenas e figurinos que nos remetia diretamente às décadas de 60, 70, 80 e 90. A fotografia se destaca muito bem, assim como a trilha sonora, que está bem ajustada de acordo com os acontecimentos que permeava a trama.
É inegável que a Jessica Chastain e o Andrew Garfield são os donos do filme, pois ambos estão perfeitos em suas respectivas atuações, ambos conseguem uma química invejável, conseguem comprar a nossa atenção e a nossa empatia instantaneamente.
Jessica incorpora a Tammy Faye de uma forma tão natural, tão leve, tão espetacular, tão minimalista, tão forte, que nos ganha em todas às suas aparições em cenas. É impressionante a facilidade que a Jessica tem para atuar em diferentes situações, pois quando o filme lhe pede uma atuação mais serena, mais jovial, mais moleca ela nos entrega uma Tammy que tinha aquele seu jeito inocente, doce, meigo, que estava descobrindo o seu amor pelos ensinamentos de Deus e descobrindo a sua paixão pelo Jim. Porém, quando o filme muda de tom, sua atuação acompanha diretamente a mudança, pois temos uma Tammy mais sisuda, mais tempestuosa, mais dramática, mais vulnerável, uma atuação que condizia com tudo que ela estava passando naquele momento da sua vida.
Que a Jessica Chastain é uma atriz maravilhosa, espetacular, fenomenal, isso todos nós já sabemos, mas o que ela nos entrega na pele da Tammy Faye é para ser aplaudida de pé em completo êxtase. Jessica atua com a alma e o coração, tem uma performance excelente, interpreta muito bem, canta maravilhosamente bem (destaque para a sua última cena), uma apresentação e uma entrega completamente perfeita, sem um erro. Jessica foi indicada no Globo de Ouro, perdendo para a Nicole Kidman, está indicada no Critics, e ontem à noite levou o prêmio no SAG's (justíssimo por sinal). No Oscar a disputa será mais acirrada, pois temos a Nicole com um leve favoritismo, mas na minha modesta opinião, eu gostei mais da atuação da Jessica do que da Nicole, disto isto, eu daria a estatueta para a Jessica Chastain sem pestanejar.
Andrew Garfield vem se destacando como um dos melhores atores da sua geração, e não é de hoje. Aqui temos um Andrew totalmente solto, leve, inspirado, carismático (sua marca registrada), envolvente, que nos impressionou mais uma vez com a sua atuação. Andrew interpretou um Jim que inicialmente era visto como o par perfeito de Tammy, aquele casal perfeito, como observamos logo ao início com o seu relato do pacto que ele fez perante Deus, nos evidenciando o que o levou a querer seguir a palavra de Deus. Outro destaque estava em sua forma de pregar os desígnios de Deus, sendo bastante incisivo, enfático, firme, convincente, mas sempre de uma forma leve, e com um sorriso no rosto esbanjando toda a sua simpatia (foi exatamente assim que ele começou a conquistar a atenção da Tammy Faye). Tudo isso condiz com a bela atuação que Andrew nos entrega, pois assim como a Jessica, ele também tem variações de tom em sua atuação, que são muito dignas por sinal.
Andrew Garfield já nos entregou ótimos trabalhos e belíssimas atuações como em "A Rede Social", "Silêncio", "Até o Último Homem" e recentemente em "Tick, Tick…Boom!" e "Os Olhos de Tammy Faye". Andrew foi indicado ao Oscar por "Até o Último Homem" e está indicado por "Tick, Tick…Boom!". Na minha opinião, já passou da hora do Andrew Garfield ser reconhecido pela academia, pois ele é um ator completo, ele já fez drama, já fez comédia, já fez musical, já fez super-herói, já fez romance, e tudo em alto nível, que sempre o eleva, o destaca e o coloca em busca dos principais prêmios nos festivais. E só pra deixar registrado, eu indicaria o Andrew pelo seu trabalho apresentado em "Os Olhos de Tammy Faye", pra mim cabe tranquilamente uma indicação a coadjuvante no Oscar, ou em qualquer premiação, sem nenhum exagero.
O longa de Michael Showalter está indicado no Critics, no BAFTA e no Oscar na categoria de Maquiagem e Cabelo.
"Os Olhos de Tammy Faye" é uma ótima cinebiografia, é leve, divertida, prazerosa, gostosa, que não pesa a mão em discursos sobre religião, e não defende nenhuma tese e nem impõe nada sobre a fé, ou a crença de cada um, o que poderia facilmente cansar e desinteressar o espectador, pelo contrário, temos apenas uma releitura de como foi a vida de Tammy Faye e Jim Bakker. Há muito tempo que eu não assistia um filme biográfico tão bom quanto este. Tecnicamente o longa é bem feito e bem caprichado. O roteiro é bem funcional e dita o ritmo correto que a trama percorre durante às suas 2h. O filme não é cansativo, não é arrastado, nos prende gradativamente e tem um ritmo acertado. Às atuações nos ganha imediatamente, pois temos um bom elenco de apoio, mas o que realmente nos conquista e eleva o nível do filme são estes dois nomes: Andrew Garfield e Jessica Chastain. [28/02/2022]