Em 30 de outubro de 2015, um incêndio na boate Colectiv, que ficava localizada na capital da Romênia (Bucareste), ocasionou a morte de 27 pessoas e deixou cerca de 200 feridos. Posteriormente, vários destes feridos acabaram morrendo nos hospitais da capital romena. A tragédia ocasionou diversos protestos que levaram à demissão do primeiro-ministro romeno e à ascensão de um governo composto por tecnocratas, ou seja, funcionários sem origem política e voltados para a resolução dos problemas de forma técnica.
O documentário "Colectiv", dirigido por Alexander Nanau, se reveste da aura de uma grande reportagem de jornalismo investigativo para nos colocar diretamente nos bastidores do Ministério da Saúde do governo romeno e na redação do jornal Gazeta Sporturilor, com o objetivo de nos mostrar o por quê dessa tragédia ter se abatido sobre a Romênia.
O que o documentário nos mostra são situações que, como habitantes do Brasil, infelizmente, conhecemos bem: a corrupção generalizada, contratos de prestação de serviços mal executados, a má fé de algumas pessoas. Além disso, o filme nos elucida algo sobre o trabalho dos tecnocratas: a dificuldade que eles enfrentam de ultrapassar a politicagem e o jogo de poder. "Colectiv" nos mostra que não é fácil fazer o que tem de ser feito.
Chama muito a atenção no decorrer do documentário o livre acesso que o diretor Alexander Nanau teve, não só à equipe do ministério, como também ao grupo de jornalistas. Acompanhamos diálogos internos em reuniões, conversas com fontes, tudo com o objetivo de nos deixar mais próximos de um sistema difícil de ser combatido e que mina as forças daqueles que tentam vencê-lo.
Indicado ao Oscar 2021 de Melhor Filme Internacional e de Melhor Documentário, "Colectiv" é um filme que ficará bem próximo da memória dos brasileiros. Também tivemos uma tragédia parecida aqui no Brasil (o incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no dia 27 de janeiro de 2013). Embora os nossos hospitais não tenham os mesmos problemas que o sistema de saúde romeno, a nossa tragédia também poderia ter sido evitada se as nossas instituições funcionassem como deveriam e exercessem os seus papeis fiscalizadores.
Enquanto o "Colectiv" brasileiro não vem, recomendo fortemente a leitura de "Todo Dia a Mesma Noite", de Daniela Arbex, que esmiúça a nossa tragédia - não à toa, num trabalho hercúleo de jornalismo investigativo.