Sabe quando caminhamos pelos corredores de uma exposição de quadros e nos deparamos com um que nos obriga a sentar diante dele e ficar contemplando-o, devido a tanta beleza e mistério? É assim que o filme "The Power of the Dog" nos faz sentir.
O roteiro é incrivelmente bem costurado, cada cena, cada passagem de cena, cada fala, cada olhar, cada gesto, absolutamente tem um porquê de estar ali.
Basta prestar atenção e ter cuidado, se entregando ao propósito da diretora e da história. O "silêncio" nas duas horas de filme vai fazendo nascer dentro de nós teorias, angústias, questionamentos. Sim, "silêncio" com aspas, pois, apesar de todas as falas, ao final de cada ato o que resta são silêncios, onde:
1 - o espectador precisa se contentar em esperar um pouco mais para ir aos poucos descobrindo que a brutalidade de Phill esconde uma sensibilidade, que ele é incapaz de externar;
2 - paradoxalmente, a sensibilidade de Peter esconde uma força, uma brutalidade e uma frieza que um filho, para proteger sua mãe, precisa praticar. (aliás, a cena no celeiro, onde ele assume uma postura de "Homem" macho alfa do início do século XIX fumando um cigarro é incrível, em contraste com o sorriso sensível do bruto Phil, quando aquele pergunta a este, "Nus"?
3 - por fim, os outros atores estão impecáveis, como Jesse Plemons, por exemplo, sendo monossilábico e mal abrindo a boca para manifestar as palavras, trazendo à trama, com seu personagem, um mistério secundário; assim como Kodi- Smit-McPhee, atuando em dose certa para mostrar um homem frágil e forte ao mesmo tempo.
Um roteiro muito bem elaborado, sem lacunas, ótimas atuações dos atores (Benedict Cumbebartch está absurdamente incrível) e uma tema que, apesar de já ter sido tratado outras vezes no cinema, poucas vezes foi bem tão tratado aqui. O filme não é sobre homossexualidade tão pura e simplesmente, é sobre machismos, sociedade, ignorância, hipocrisia, educação familiar.
Quem quer ver filmes onde o título já descreva toda a história, onde não haja esforço para entender e degustar uma boa história, deve assistir, por exemplo, "Velozes e Furiosos", que não deixa de ser uma arte, mas não não exige que você pare e sente em frente à obra para compreendê-la, admirá-la e refletir sobre.