Não é fácil envelhecer. Não é fácil envelhecer sendo portador de uma doença degenerativa. Ao mesmo tempo, não é fácil assumir a posição de cuidador de alguém. Ainda mais se esse alguém for uma pessoa que a gente ama muito. Ainda mais se tivermos que ver essa mesma pessoa definhando, desaparecendo aos nossos olhos. É preciso sacrifício, abnegação, paciência... Não é fácil...
O filme "Meu Pai", dirigido e co-escrito por Florian Zeller (tendo como base a peça teatral de sua autoria), nos coloca diante de uma situação deste tipo. Anthony (Anthony Hopkins) tem 80 anos e mora sozinho em Londres. Talvez, por não ter ainda a consciência da seriedade de sua condição (o filme não confirma, mas deixa subentendido que ele tem Mal de Alzheimer), ele recusa a ajuda de toda cuidadora que sua filha, Anne (Olivia Colman), arruma para ele.
Por se tratar de uma obra sobre um homem em deterioração mental, o roteiro de "Meu Pai" se apoia em dois dos elementos fundamentais da narrativa: o tempo e o espaço. Nunca ficará claro, para Anthony, ou para nós, em que linha temporal ele se encontra - ou qual o período de tempo que a trama engloba. Nunca ficará claro para Anthony, ou para nós, em que local ele se encontra - se no seu apartamento, ou se no apartamento de Anne, ou se num local fruto da sua imaginação.
Neste sentido, é muito importante destacarmos alguns aspectos técnicos de "Meu Pai", principalmente a Direção de Arte de Peter Francis e Cathy Featherstone; a Montagem de Yorgos Lamprinus; e, principalmente, a atuação magistral de Anthony Hopkins. Ele consegue nos colocar diante do desespero e da impotência de alguém que não sabe mais se situar no mundo. Por outro lado, Olivia Colman nos apresenta uma filha preocupada, mas ciente das decisões importantes que precisa tomar.
Sabemos que o ano de 2020 foi atípico, em todos os sentidos, mas pensar que estamos falando no Oscar 2021 e "Meu Pai" não ser o favorito em várias categorias é um verdadeiro absurdo!