Todos os dias, na frente do sanatório que mantém na República Tcheca, o herborista Jan Mikolasek (interpretado na juventude e na idade adulta por pai e filho, respectivamente, Josef e Ivan Trojan) encontra dezenas de pacientes, de diferentes esferas sociais - do presidente do seu país até à pessoa mais humilde. Mikolasek faz sucesso entre as pessoas por, ao olhar uma simples amostra de urina, diagnosticar os mais diferentes tipos de doença, oferecendo chás medicinais para a cura destas enfermidades.
O filme "O Charlatão", dirigido por Agnieszka Holland, nos conta a história por trás de Jan Mikolasek. Acompanhamos a sua juventude como soldado de guerra e como ele passou a estudar a profissão que abraçou após o conflito. O longa também nos coloca diante da vida pessoal de Mikolasek, em especial o seu relacionamento com o seu braço direito, Frantisek Palko (Juraj Loj).
Um detalhe importante salta logo à vista quando nos deparamos com "O Charlatão": o fato de que Jan Mikolasek é uma personagem que tem dentro de si tanto o bem, quanto o mal. Nunca fica ao certo, para nós da plateia, se estamos diante de um heroi ou de um vilão. Afinal, ele fez fama e fortuna ao se utilizar de um tratamento nada ortodoxo para curar pessoas; e também teve relações bastante próximas com os regimes nazista e comunista, em seu país.
Agnieszka Holland, uma cineasta experiente, e com histórico de indicação ao Oscar, navega por essas transições narrativas com muita competência. Baseado em uma história real, "O Charlatão" (que foi o filme representante da República Tcheca na disputa por uma indicação ao Oscar 2021 de Melhor Filme Estrangeiro) se aproveita muito bem da dubiedade em torno de sua personagem principal. Até a última cena de "O Charlatão" iremos nos questionar se uma pessoa como Mikolasek vale a pena o sacrifício.