A Tragédia de Macbeth (The Tragedy of Macbeth)
A Tragédia de Macbeth é um longa (original Apple Films) histórico americano de 2021 escrito e dirigido por Joel Coen e baseado na peça Macbeth de William Shakespeare. É o primeiro filme dirigido por um dos irmãos Coen sem o envolvimento do outro. O filme é estrelado por Denzel Washington, Frances McDormand, Bertie Carvel, Alex Hassell, Corey Hawkins, Harry Melling, Kathryn Hunter e Brendan Gleeson.
Eu tive uma grande curiosidade ao descobrir que pela primeira vez os irmãos Coen iriam se separar em um filme, pois isso me soava um tanto quanto arriscado, visto que eles sempre trabalharam juntos e nos entregou verdadeiras pérolas cinematográficas como "Fargo" e "Onde os Fracos Não Têm Vez" (pra citar duas). Criei grandes expectativas ao imaginar como seria a direção e o roteiro de Joel Coen, sem o seu irmão Ethan Coen, em "A Tragédia de Macbeth". Pois bem, aqui temos uma ótima adaptação Shakespeariana em preto e branco feita por Joel Coen, juntamente com a sua esposa Frances McDormand, que além de atuar, também está presente na produção do longa.
Joel nos entrega uma ótima uma peça teatral filmada como um longa-metragem. Um verdadeiro teatro, desde às apresentações, às atuações, os diálogos, os monólogos, os cenários, os figurinos, às filmagens, que muita das vezes eram bem próximas dos rostos dos personagens em cena, captando todas as suas expressões faciais. A direção de Joel está muito segura, pois o trabalho de câmeras que ele adota em seu filme é incrível, muita das vezes feito com câmeras fixas, em ângulos fixos, uma filmagem com ares teatrais, totalmente imersa na peça, no conto, na trama que estava sendo apresentada.
A cenografia do longa é bem ajustada e funciona dentro do que o filme precisa, pois temos cenários voltados para o reino, para o castelo, que nos remete diretamente aos cenários de uma peça teatral, exatamente por isso que o longa se desenvolve quase que 100% do seu tempo em cenários fechados e não em ambientes mais abertos. A direção de arte (que está indicada ao Oscar) é bastante competente e acompanha bem a construção dos cenários, figurinos e maquiagens, estando presente no enquadramento com a direção de fotografia. Por falar em fotografia, Bruno Delbonnel está completamente sublime ao destacar a fotografia do longa, a película em preto e branco favorece muito a fotografia, pois a mesma está belíssima. Delbonnel está indicado ao Oscar, mas o páreo é duríssimo, pois ele enfrenta Dan Lautsen (O Beco do Pesadelo), Ari Wegner (Ataque dos Cães), Greig Fraser (Duna) e Janusz Kominski (Amor Sublime Amor). A trilha sonora de Carter Burwell é branda, suave, tensa nos momentos certeiros, dita o ritmo da trama.
Denzel Washington está muito bem como Lord Macbeth, é realmente incrível como ele se dá bem em longas que são voltados para uma peça teatral, como ele domina bem os diálogos e os monólogos, como foi em "Fences", um longa que também funciona com uma peça teatral (trabalho que também lhe rendeu uma indicação ao Oscar). Denzel faz o que sabe de melhor ao interpretar um personagem tirano, ambicioso, ardiloso, maquiavélico, que desejava ocupar o trono a qualquer custo, mesmo que isso o levasse diretamente para a tragédia de Macbeth. Obviamente o Denzel já esteve em trabalhos mais inspirados e mais ambiciosos, já nos entregou melhores atuações, porém, devo afirmar que aqui ele traz uma atuação mais teatral na medida certa, que está bem ajustada e compõe muito bem o propósito do seu personagem. Denzel Washington tem uma boa atuação e realmente ele está bem no personagem, mas sinceramente não acho que seja uma atuação para indicá-lo ao Oscar.
Frances McDormand é uma atriz refinada, requintada, renomada, oscarizada, uma das melhores atrizes de todos os tempos (e não é de hoje). Frances dá vida a Lady Macbeth, o braço direito de seu marido (Lord Macbeth) e peça-chave no desenrolar de toda a trama, sendo a principal responsável em instigá-lo em seus desejos e ambições perante à sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Uma personagem astuta, sagaz, fria, calculista, que planejava às suas ideias mirabolantes e às colocava sempre em prática (ou pelo menos tentava). Frances e Denzel formam a dupla perfeita do longa, um contraponto muito funcional pra história. Destaque para a cena do sonambulismo, onde Frances eleva a sua atuação e nos mostra outra faceta da Lady Macbeth - perfeita!
Jamais poderia deixar de mencionar a atriz Kathryn Hunter. Kathryn chega a nos assustar e nos deixar boquiabertos perante a sua performance ao incorporar uma bruxa maléfica, sombria, pitoresca, que usava da sua astúcia ao discursar para convencer o Lord Macbeth a seguir em busca da sua visão. Eu fiquei completamente impressionado ao presenciar o alto nível de atuação que Kathryn Hunter deu ao nos exibir seu contorcionismo, seus trejeitos, suas expressões sádicas, sua faceta tirana, sua voz sombria - um verdadeiro show em cena, sem nenhum exagero.
Ainda tivemos Corey Hawkins como Macduff, mais uma boa atuação, principalmente no embate final com o Lord Macbeth. Alex Hassell como Ross, se destacando bem como uma espécie de conselheiro. Completando com Brendan Gleeson como King Duncan, Bertie Carvel como Banquo, Harry Melling como Malcolm e Moses Ingram como Lady Macduff.
No Globo de ouro e no SAG's o longa foi indicado somente em Ator (Denzel). No BAFTA também só tem uma indicação, que é Fotografia. No Critics tem duas indicações, Fotografia e Ator. No Oscar o longa está indicado em três categorias, Direção de Arte, Fotografia e Melhor Ator, e na minha opinião, não é favorito em nenhuma.
A Tragédia de Macbeth é uma bela adaptação Shakespeariana, de fato Joel Coen conseguiu nos imergir diretamente em uma peça teatral totalmente introduzida em um longa-metragem, funcionando perfeitamente. O filme é bom, às atuações teatrais são boas, a película em preto e branco é sublime e o resultado final do primeiro trabalho solo de Joel Coen é bastante convincente. [27/02/2022]