Utopia artificial
por Barbara DemerovA exagerada exaltação encontrada em Eu Sou Brasileiro não vem no sentido de animação ou alvoroço. Ela vem do enaltecimento da dor do protagonista, um aspirante a jogador de futebol que sofre inúmeras dificuldades para alcançar seu sonho, mas que ao mesmo tempo não ganha profundidade necessária para que o espectador seja atingido pelos sentimentos explícitos em tela. A intenção do diretor Alessandro Barros é clara: provar o quanto o brasileiro é resiliente. Mas há uma carência de desenvolvimento que se limita às adversidades e não se estende aos porquês.
Sendo assim, Eu Sou Brasileiro ganha forte cunho sentimental, pesando demais no comportamento imoderado de Léo (Daniel Rocha) e indo de encontro, também, com o subgênero de histórias motivacionais. Apesar de seu sonho de se tornar um profissional futebolístico ser crível (afinal, que brasileiro não sabe que o famoso "sonho" no país muitas vezes envolve o esporte?), toda e qualquer camada que poderia auxiliar o protagonista a se tornar menos unidimensional acaba não sendo bem executada, a exemplo da mãe Carmen (Cristiana Oliveira) ser resumida a uma dona de casa viúva, a amiga de infância Lu (Fernanda Vasconcellos) ser uma figura perfeita, e a namorada Binha (Marcella Rica) ser apenas uma "Maria Chuteira".
Todos estes clichês ambulantes não estruturam a história a ponto dela se tornar mais potente - a atenção é completamente voltada ao sonho de Léo e a sua rotina com o futebol, transformando todo o resto em pontos estratégicos apenas para engrandecer ou servir de muleta para o personagem evoluir de alguma forma. Os diálogos também não ajudam no funcionamento da eficácia narrativa, sendo guiados por chavões esperados e a falta de química do elenco. Na maior parte da história, as palavras ditas possuem emoção de sobra na entonação, mas uma fluência praticamente inexistente. Há, também, planos e enquadramentos sem uma padronização exata e uma fotografia sem identidade (especialmente na cidade em que a história se passa) que dificulta a afinidade com aquele universo.
O acidente que o protagonista sofre pode não ter sido bem executado em termos cinematográficos, mas funciona por ser o estímulo do roteiro para criar seu inesperado plot twist, baseando-se nas escolhas pessoais de Léo e nos vínculos apresentados até o momento trágico. Porém, a falta de elaboração das personagens que vivem em volta do protagonista juntam-se com situações desconexas vividas sete anos no futuro, com Léo trabalhando como treinador de futebol e com uma família formada junto de Lu. A presença de seu cunhado e um assalto que faz a família perder seu dinheiro são meras inconstâncias do roteiro e não fazem sentido num plano maior - ainda mais quando nota-se a ausência destas questões logo após estas acontecerem.
É compreensível que a superação humana venha da perda, material ou física, daquilo que mais nos importa. Eu Sou Brasileiro utiliza tal reflexão para compor uma história, mas se esquece do principal: para sensibilizar, uma história não precisa ser completamente verossímil à vida real, mas necessita de personagens capazes de entregar questionamentos ou visões que proporcionem uma análise autêntica e próxima daquilo que realmente vemos/vivemos. No entanto, o texto impossibilita tal identificação por não focar nos detalhes, mas sim num sonho sem embasamento.