Viajar para se conhecer
por Barbara DemerovPor mesclar momentos sem sentido com alguns focados especificamente no valor da amizade, Desperados não chega a ser uma comédia escrachada por completo, mas ainda assim ultrapassa alguns limites morais através de personagens desenvolvidos com superficialidade (como a própria protagonista Wesley, interpretada por Nasim Pedrad).
Ao mesmo tempo em que insere momentos cômicos que funcionam graças a harmonia de Pedrad com Anna Camp e Sarah Burns, o filme se perde por não saber qual caminho seguir - especialmente pelo fato do roteiro buscar trazer uma mensagem honesta dentro de uma roupagem que não preza por um conteúdo sério. Se o início de uma cena aborda algum assunto importante ou pessoal para Wesley, Brooke (Camp) e Kaylie (Burns), ela nunca termina da mesma forma. Isso nos faz esquecer completamente de que, na verdade, a essência da história é sobre você ser fiel consigo mesma.
Afinal, o redescobrimento interno pelo qual Wesley passa ao enviar por engano um longo e-mail a um namorado em potencial, logo transforma-se em algo coletivo durante a breve viagem ao México que faz com as amigas. Mas, na verdade, nada discutido entre elas ultrapassa da barreira de questionamentos e comportamentos estereotipados.
APESAR DE DIVERTIDO, O FILME NÃO TRAZ RESOLUÇÕES COERENTES COM DESENVOLVIMENTO DA PERSONAGEM PRINCIPAL
Enquanto comédia, o clichê certamente torna-se um aliado para o funcionamento de várias cenas que buscam entregar entretenimento. É por isso que Desperados chega a ser um filme divertido e despretensioso, mas que não se conecta com seu outro lado (o mais interessante, por sinal): a jornada de uma mulher de 30 anos que não sabe o que quer e sente que precisa seguir regras da sociedade - como encontrar um bom emprego, conhecer o par perfeito, casar e ter filhos. Ao transformar este desejo feito por pressão em algo necessário para conhecer melhor a si mesma, o filme poderia inverter bem a situação.
Mas não é isso o que acontece. Apesar de Wesley ser uma personagem cativante pelo senso de humor e comentários ácidos, ela é essencialmente uma pessoa moldada por estereótipos e, mais do que isso, se permite ser apenas uma mulher sem falhas. O objetivo da história é o de nos mostrar o quanto essa limitação é equivocada - tanto para a pessoa que resiste à vontade de ser ela mesma quanto para quem está à sua volta -, mas no fim das contas, Wesley não consegue se desprender destes moldes.
Afinal, por mais que a viagem para o México lhe abra os olhos para repensar como Wesley se porta diante de quem está interessada, ela permanece mais disposta a agradar os outros do que a si. Sendo assim, Desperados não traz uma solução coerente ao desenvolvimento da personagem, pois até mesmo dentro de um desfecho feliz, Wesley só foi capaz de encontrá-lo por estar acompanhada de outra pessoa, voltando ao princípio da trama.