Separadas na maternidade
por Katiúscia ViannaHistórias entre irmãos são bem comuns nos cinemas. Por finalidade dramática, muitas vezes eles são colocados como inimigos nas telonas, mas a maioria dos casos da vida real prova que os clichês são verdadeiros. Irmãos mais velhos tendem a proteger os mais novos. Irmãs dividem roupas umas com as outras. E onde existe um forte clichê, dá pra fazer comédia zoando ele. Essa é a ideia de Minha Irmã e Eu, novo filme de humor que reúne dois dos nomes mais poderosos da comédia atual: Ingrid Guimarães e Tatá Werneck.
Mirian (Ingrid Guimarães) e Mirelly (Tatá Werneck) são duas irmãs que nasceram em Rio Verde, no interior de Goiás. Sua mãe, Dona Márcia (Arlete Salles) tinha o sonho de transformá-las em uma dupla sertaneja, mas as moças seguiram por caminhos opostos na vida.
Mirian se casou e vive uma rotina pacata em sua cidade natal. Por sua vez, Mirelly esbanja uma vida de luxo no Rio de Janeiro... Pelo menos, é isso que a caçula conta nas redes sociais, pois está passando por vários perrengues em terra carioca, tentando ficar amiga de famosos. Quando a mãe delas desaparece após uma briga entre as irmãs, Mirian e Mirelly vão ter que se unir numa viagem pelo Brasil para desvendar esse sumiço.
Ingrid Guimarães e Tatá Werneck já trabalharam juntas no cinema anteriormente. A estrela da novela Terra e Paixão fez uma participação em De Pernas pro Ar 2, enquanto Ingrid apareceu em TOC - Transtornada Obsessiva Compulsiva. As duas também já foram protagonistas ao disputar o mesmo homem em Loucas pra Casar, mas essa é a primeira vez que elas interpretam irmãs. E foi uma escolha bem acertada.
As duas atrizes apostam em suas especialidades para compor irmãs tão distintas. Ingrid Guimarães aposta em uma personagem mais centrada, que vai se rebelando aos poucos e “soltando suas feras” em situações absurdas. Por sua vez, Tatá Werneck investe em seus monólogos rápidos e improvisados (onde fala 1000 palavras por minuto) - que combinam com Mirelly, já que ela está sempre usando seu jeito malandro para conseguir as coisas. Logo, elas formam uma dupla dinâmica e divertida, te fazendo lembrar das suas próprias irmãs, caso você as tenha (Se você não tem, saiba que é assim mesmo: a gente grita nas festas de família, mas se une para comemorar cada vitória uma da outra).
Infelizmente, Arlete Salles aparece bem pouco no filme, afinal a premissa é que ela desapareceu, então seu talento cômico - que já vimos em tantas personagens, principalmente a Copélia de Toma Lá Dá Cá - é pouco aproveitado no longa. Ao mesmo tempo, Minha Irmã e Eu conta com diversas participações especiais: Lázaro Ramos, Taís Araújo, Iza e Chitãozinho e Xororó interpretam a si mesmos na trama, afetando a jornada das protagonistas. Mas quem rouba a cena mesmo é um boi, mas não vou revelar spoilers sobre como ele se mete nessa história.
Em entrevista ao AdoroCinema, a diretora Susana Garcia falou que Minha Irmã e Eu seria parte de uma trilogia espiritual com seus outros dois sucessos: Minha Mãe É uma Peça 3 e Minha Vida em Marte. Afinal, os três compartilham a mesma palavra no título, mas principalmente porque misturam comédia com o amor daqueles que consideramos família. O que faz sentido, mas se for fazer uma comparação, Minha Irmã e Eu perde na jogada.
Por mais que Susana Garcia faça, novamente, mais um bom trabalho na direção ao dosar drama e humor, a história do filme talvez seja simples demais. Existem sequências boas ao longo da trama, como Mirelly beijoqueira no bar ou a já citada cena do boi. Porém, por mais que seja capaz de arrancar boas risadas, a história se perde um pouco nas mesmas piadas, se tornando meio esquecível, dependendo muito do carisma de suas protagonistas para se sustentar.
É estranho não ver nenhuma interação de Mirelly com os sobrinhos, por exemplo. Inclusive, os filhos de Mirian mal têm destaque na trama. Não sei nem qual é a idade deles pra saber se está tudo bem ver ela largar tudo pra ir atrás do resto da família. E eu acho um absurdo você ter um nome como George Sauma no elenco coadjuvante e não aproveitá-lo mais como interesse amoroso da personagem de Tatá Werneck. Fica aqui a dica para uma sequência!
Críticas à parte, é um sopro de ar fresco ver uma comédia ainda inspirada em uma relação tão fundamental como irmãs. Particularmente, eu tenho duas irmãs que são tudo pra mim, então o filme me pegou de um jeito mais certeiro (inclusive, sou igual a Tatá: caçula e pequena). Mas Minha Irmã e Eu também pode conquistar todos os tipos de público. Não tem o mesmo apelo universal de Minha Mãe É Uma Peça, porém consegue construir algo identificável - afinal, se você não tem irmãos, pode ter primos ou até mesmo amigos que são praticamente da família.
E o importante é que tem potencial de abrir mais uma saga de sucesso no cinema. Pois todo mundo sabe que a vida entre irmãos também tem seus clichês e absurdos maravilhosos. A ideia de contar uma história no interior de Goiás também é uma proposta bem legal, criando um universo de personagens que podem ser mais explorados numa possível continuação.
Então, vale a pena ver Minha Irmã e Eu? Bem, é verdade que a comédia nacional tem um vazio deixado pelo incrível Paulo Gustavo que nunca será preenchido. Mas também temos que lembrar como há espaço para diferentes vozes no humor das telonas. Ingrid e Tatá são dois talentos natos - e Ingrid já teve seu próprio fenômeno no cinema com a franquia De Pernas pro Ar. Então, no geral, esse novo longa tem todas as características necessárias para construir um sucesso. Agora, depende do público.
Eu fico na torcida por Minha Irmã e Eu, pois sinto que esse filme foi só o gostinho de uma história que há muito pra contar. E por mais que Mirelly saiba falar bem rápido (na velocidade 2 do whatsapp), seria legal ter mais tempo com essas irmãs. Sem falar que o filme traz o hino “Evidências”, de Chitãozinho e Xororó, que é basicamente o hino nacional, então, pelo menos, você sai do cinema cantando.