Tensão que se perde no ar
por Barbara DemerovA primeira meia hora de Shadow in the Cloud é realmente promissora: a atuação misteriosa de Chloe Grace Moretz segura bastante a atenção; a atmosfera da Segunda Guerra Mundial, com aviões de guerra e o medo do inimigo, traz certo diferencial na mistura de ação/terror; o artefato desconhecido presente dentro da maleta que a protagonista carrega consigo parece ser realmente importante; e, por fim, existe toda uma aura que já prevê acontecimentos repentinos e imediatos.
Dito isso, o descontentamento com o que surge nos dois atos seguintes chega a ser assustadoramente dissonante de toda a construção inicial, feita de forma consistente. Ao invés de manter-se como um suspense em meio ao céu, onde não há lugar para fugir a não ser sua própria cabine - prisão e refúgio ao mesmo tempo -, Shadow in the Cloud vai muito além apenas para entregar uma história tão absurda quanto incoerente. E o pior: o enredo nem ao menos tenta embasar o lado que se apoia na ficção-científica, causando uma sensação desgastante ao nunca esclarecer questões que deveriam ser prioritárias.
Porém, caso o longa se levasse menos a sério em sua introdução, o fato de não se explicar tão bem não seria o principal problema. Afinal, a construção da protagonista Maude Garrett (Moretz), mesmo sendo feita de maneira urgente através de um longo monólogo e do suspense, entrega uma boa base e prende a atenção graças à atuação séria e madura de Moretz. A direção de Roseanne Liang, inclusive, abre bastante espaço para que a atriz possa entregar bastante intensidade em suas falas, ainda que seu principal cenário seja uma cabine apertada do avião.
É durante os momentos em que o filme ainda está dentro da zona do mistério - aliado à preocupação da protagonista com sua maleta, a sensação de que viu alguma coisa nas nuvens, o vidro com um racho quebrado e o machismo de seus colegas de voo - que Shadow in the Cloud atinge o nível de entretenimento mais agradável. Além de claustrofóbico, acompanhar a protagonista que possui uma missão secreta é o suficiente para manter a tensão elevada. Mas isso não dura nem metade do filme.
O não saber neste caso é fundamental para que a atenção se volte imediatamente aos elementos que a diretora faz questão de destacar, mas a criatura sobrenatural que toma o posto de "sombra" no título não está incluída no combo. Isso porque não faz absolutamente nenhum sentido ela estar ali - ou, principalmente, ter uma ligação emocional (ainda que baseada na raiva) com Garrett.
Shadow in the Cloud busca a mesma intensidade em embates vista em Alien - O 8º Passageiro, mas só alcança por igual a força de uma protagonista interessante, que carrega toda a história em suas costas. Ao longo do caminho, não é só a criatura sobrenatural que traz o efeito reverso ao esperado: o significado da maleta traz o aprofundamento da história de Garrett, mas só embaraça a narrativa como se fosse uma bola de neve. Apesar da boa introdução, no fim da tudo se perde em meio a uma explosão de ação e romance. Ao mirar em tantos alvos, o que se acerta é somente o bizarro.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2020.