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    Army of the Dead: Invasão em Las Vegas
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

    Bagunça que entretém

    por Kalel Adolfo

    Após quase duas décadas de Madrugada dos MortosZack Snyder se aventura novamente no território de zumbis com Army of the Dead, projeto que, de certa forma, representa um retorno às raízes do cineasta. Muitas coisas aconteceram nesse intervalo entre as obras, incluindo uma triste tragédia em sua vida pessoal e diversas polêmicas envolvendo a Warner Bros.

    Mas agora, o ciclo artístico de Snyder parece ficar completo, já que o diretor abandona as pretensões exacerbadas de filmes como Liga da Justiça e Batman Vs Superman, e abraça um storytelling muito mais contagiante, descontraído e fácil de se conectar.

    Em Invasão em Las Vegas — subtítulo do longa em território nacional — nós acompanhamos um grupo de mercenários contratado para realizar um roubo ambicioso na Cidade do Pecado. Contudo, há um grande empecilho: uma infestação zumbi tomou conta do local, e agora, as autoridades irão extinguir a região em pouco menos de dois dias para evitar que o vírus se espalhe para o mundo.

    Por isso, o esquadrão deve efetuar o assalto rapidamente, a fim de escapar da bomba atômica que será acionada sob a cidade em questão de horas. Toda essa proposta é apresentada de maneira objetiva, já ditando o tom frenético que a obra irá adotar em boa parte de sua duração.

    Aliás, a abertura de Army of the Dead é capaz de exprimir em poucos instantes, não apenas a estética, como também a atmosfera da trama. Vibrante, urgente e sanguinário, os primeiros minutos já indicam o estilo de experiência que será oferecido ao espectador. 

    Tratar um apocalipse zumbi em escala estadual — ao invés de nacional ou global — também é um grande acerto do roteiro. Desta forma, é possível trazer inovação a um gênero que já cansou de ser desconstruído e reformulado. Diminuir o alcance deste evento catastrófico permite desviar um pouco o foco dos mortos-vivos, e trazer um olhar mais assertivo acerca dos personagens.

    Inclusive, o elenco da nova produção da Netflix não decepciona: todos ganham destaque em tela, formando uma equipe que consegue expressar sintonia em meio a grandes divergências. Dave Bautista — o protagonista do filme — é uma das melhores surpresas da história.

    Até mesmo em intensas sequências de combate, o astro está sempre esbanjando carisma e vulnerabilidade, características que normalmente não se sobressaem em projetos tão radicais. Outros highlights incluem Omari Hardwick (Vanderohe) e Matthias Schweighöfer (Dieter), que acabam criando uma espécie de bromance improvável durante o segundo e terceiro ato do longa. Apesar de propositalmente caricatos, os perfis dos personagens se complementam, trazendo um dinamismo hilariante à trama.

    As cenas de ação são coreografadas de maneira impecável, e mergulham sem medo no gore. Aliás, Army of the Dead é definitivamente o filme mais sangrento da carreira de Snyder. Cabeças esmagadas, tripas arremessadas e ossos sendo fraturados compõem alguns dos momentos mais brutais da narrativa.

    Contudo, o maior inimigo deste projeto é a sua duração. Atingindo a marca de quase três horas, o roteiro não possui estruturas para sustentar uma experiência tão prolongada. E é neste ponto em que a qualidade da produção encontra o seu declínio.

    Sem saber como preencher o espaço entre as batalhas mais empolgantes, o diretor peca nos arcos dramáticos, corroendo o ritmo da obra com cenas pobres em desenvolvimento de personagens, que pouco contribuem para o andamento da história.

    É como se após os picos de êxtase, o cineasta optasse por grandes vazios narrativos, sem saber por quais direções seguir. Essas falhas nos desconectam da experiência aos poucos, criando um ritmo incoerente, e às vezes, cansativo.

    Visualmente, os resultados de Invasão em Las Vegas são mistos. Apesar de acertar na estética, a ambientação externa da cidade chega a ser poluída com tantas informações, beirando a artificialidade. Infelizmente, esse é um traço comum nos trabalhos de Snyder, que está acostumado a criar cenários exageradamente computadorizados.

    A mutação de zumbis alfa também é questionável. Por terem sentimentos e motivações próprias, as criaturas acabam sendo bastante humanizadas. A escolha acaba soando como uma contradição dentro do subgênero de mortos-vivos, já que o fator espantoso destes apocalipses é a perda total do livre arbítrio, que dá lugar a uma persona violenta e implacável. Aqui, esses monstros formam até mesmo pares românticos.

    A sucessão de erros acarreta em um desfecho apressado, anticlimático e aparentemente improvisado. Até porque, todos os objetivos impostos no início da trama acabam incompletos. A sensação predominante é de ter percorrido um grande trajeto para não chegar a lugar algum. Mesmo assim, Army of the Dead é uma deliciosa bagunça, que entre erros e acertos, entrega um dos espetáculos mais absurdos e irreverentes do ano.

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