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    A Beira
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    A Beira

    Por trás das cortinas

    por Barbara Demerov

    Quando se trata de política, não é só quem fala em frente ao microfone que importa. Há todo um trabalho árduo de desenvolver uma imagem certa que transfira suas intenções para com seus votantes - trabalho este feito com a ajuda de um time de estrategistas que, muitas vezes, tornam-se tão conhecidos quanto os políticos. É o caso de Steve Bannon, protagonista do documentário A Beira.

    Conservador e uma das figuras mais marcantes da campanha de eleição de Donald Trump, Bannon é apresentado aqui logo após sua demissão do cargo de estrategista do atual presidente dos EUA para buscar ir atrás de seu grande projeto: a união populista entre diversos partidos de extrema-direita ao redor do globo. A intenção da diretora Alison Klayman é a de mostrar o que está por trás das inúmeras entrevistas e declarações que ele faz para, então, termos mais detalhes sobre seu comportamento e intenções.

    Com uma abordagem bem observativa da diretora, Bannon vê nessa oportunidade - assim como durante as entrevistas para jornais e televisão - a hora de brilhar mais um pouco. Mas "brilhar" é uma palavra um tanto contrastante para como ele de fato é visto hoje pela mídia e políticos; após a saída da Casa Branca e uma ruptura de comunicação com Trump, o estrategista passou a ser visto como um extremista que vê no nacionalismo uma chance da população avançar. No entanto, Bannon sabe que sua visão é mal vista e chega a dizer que será "esmagado" quando o documentário estrear.

    Como documentário que explora lados não tão acessíveis da política, A Beira é um prato cheio àqueles que não tinham completa noção de quem é o homem por trás de planos considerados neofascistas por muitos no século XXI (sejam de esquerda ou não). A diretora não faz muitas perguntas para Bannon - isso ela deixa para os repórteres e mostra as questões mais incisivas, incluindo momentos com uma política italiana em Veneza, que certamente é uma das passagens mais impactantes.

    Movido a bebidas energéticas e à procura de desafios (Bannon se sente realizado após algumas entrevistas mais difíceis, nas quais ele diz que certo jornalista é "severo" com admiração), este é um personagem que intriga ao mesmo tempo que incomoda. Frases prontas, pose que esbanja autoconfiança, ironia leve que leva muitas pessoas aos risos (até mesmo os de opinião contrária): este é Steve Bannon, a astuta e acessível figura que antes estava por trás do presidente e, agora, se encontra na linha de frente da coalizão de extrema-direita.

    Ao menos o desfecho do documentário, que mostra a vitória dos democratas nas eleições de 2018 para o Senado dos EUA, é um ponto de virada que traz surpresa para Bannon e um fôlego que a diretora (que se diz antifascista) dá para o espectador que não concorda com seus ideais. Mas, para ele, não é este fracasso que finalizará sua carreira; ainda há mais eleições, reuniões e entrevistas a serem feitas.

    Filme visto na 24ª edição do É Tudo Verdade - Festival Internacional de Documentários, em abril de 2019.

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