Suspense artificial
por Barbara DemerovEste é um filme cujo roteiro possui inúmeras características que, quando unidas, têm o potencial de se tornar verdadeiramente interessante: temos um acidente que se transforma em crime, um protagonista suspeito, uma personagem com atitudes misteriosas, uma vítima e, por fim, um assassinato sem explicação. Tal assassinato é o ponto central de Testemunha Invisível, mas a direção da obra italiana não se atém a isso. Pelo contrário, busca incessantemente outras alternativas para manter a história movimentada.
E, por mais que manter o mistério não seja uma tarefa difícil com tantos elementos para se aproveitar, o mesmo não é conservado nem por alguns minutos após o início da narrativa. O motivo disso recai para a explicação que vem atrás de explicação através da personagem Virginia (Maria Paiato), respeitada preparadora de testemunhas que vai até a casa de Adriano (Riccardo Scamarcio), suspeito prestes a ser julgado pelo assassinato de Laura (Miriam Leone). Ele era a única pessoa no local do crime e, ainda assim, se diz inocente.
A grande questão que diminui o impacto do que Testemunha Invisível tem a entregar é que todo e qualquer segredo é revelado rapidamente ao espectador, sem que ele tenha tempo necessário para se acostumar com aquela ideia – ou ter a certeza de que o que está sendo narrado na tela por um dos personagens é real. Não há um narrador confiável, mas isso não é grande demérito. Por observarmos apenas a troca de hipóteses e suspeitas entre Virginia e Adriano, falta suporte externo para aquelas personagens narradas fora do cômodo em que se encontram. Isso se estende a Laura e a outros coadjuvantes que têm uma boa parcela de importância na trama.
Pelo fato de só vermos o que os personagens querem que nos seja mostrado, especialmente por parte de Adriano, Testemunha Invisível carece de um desenvolvimento geral acerca das motivações de cada um. Com tantos plot twists desfazendo cenas que acabamos de ver e afirmações que soam rasas (além de distorcidas e claramente forçadas de início), o longa vai caminhando lentamente rumo a um desfecho um tanto quanto esperado. Certas possibilidades que beiram o clichê vão aparecendo ao horizonte, e elas não são as mesmas que circulam no início da trama, com diversos rumos a serem seguidos.
A ambientação do longa sem dúvidas é um dos grandes atrativos, seja pelos tons frios que sempre acompanham os personagens – seja nas montanhas ou no apartamento solitário de Adriano - ou pelas expressões vazias do protagonista enquanto ouve com atenção as palavras de Virginia, aparentemente calculando suas respostas ou reações. Mas o roteiro não acompanha tal atmosfera carregada e, mesmo com atuações inspiradas em alguns momentos, não é capaz de sair do lugar-comum. O fato é que a carência de força no clímax prejudica a imersão construída até ali, resultando em uma conclusão nada inovadora, ou, pelo menos, nem um pouco aterradora quanto o misterioso crime que os colocou ali.