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    Aquaman 2: O Reino Perdido
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Aquaman 2: O Reino Perdido

    O último mergulho no Snyderverso

    por Diego Souza Carlos

    Encerrar grandes franquias não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se trata de uma conclusão dupla. Apesar de não saber que estava se dirigindo ao fim de um era, James Wan é o responsável por concluir a existência do antigo Universo Cinematográfico Estendido da DC, ou Snyderverso como é conhecido popularmente. Com a chegada de Aquaman 2: O Reino Perdido aos cinemas de todo o mundo, Jason Momoa se junta ao diretor para fechar a porta de uma era tão amada quanto controversa do cinema de heróis.

    Cinco anos após a sua aventura solo, o ator visto recentemente em Duna retorna ao personagem que, vez ou outra, deu as caras em outros projetos da editora durante este período de hiato, como no recente The Flash e na única série salva por James Gunn, Peacemaker. De volta como Arthur Curry, o herói dos mares agora tenta conciliar a sua vida como o Rei de Atlântida e suas responsabilidades em terra firme como pai e marido.

    Enquanto o protagonista tenta se organizar, Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II) segue seu plano de vingança ao deter o poder do mítico Tridente Negro e sua ancestral força malévola. Para derrotá-lo, Aquaman recorrerá a seu irmão Orm, o ex-Rei da Atlântida, ainda na prisão, para forjar uma aliança improvável. Juntos, eles vão ter que deixar de lado suas diferenças para proteger seu reino, salvar a família de Aquaman e o mundo da irreversível destruição.

    Repetindo acertos e erros da primeira aventura

    Warner Bros.

    A estrutura desta aventura se mantém quase intacta em relação à primeira, o que também corresponde a repetir erros e acertos. Apesar da comédia ser um pouco mais fraca em comparação ao que foi visto anteriormente - sempre é estranho ver uma sequência de piadas causar poucas reações na audiência enquanto se está na sala de cinema -, o termo “jornada do herói” pode se encaixar perfeitamente neste novo cenário: contexto base é apresentado, herói passa por um conflito e logo se vê frustrado, conquista uma força inesperada e, ao fim, consegue subjugar os problemas tornando-se uma versão melhor de si e retomando parte do status quo (de maneira bem resumida).

    O diálogo entre superfície e Atlântida ainda não existe. Enquanto o primeiro não faz ideia da existência de uma civilização no fundo do mar, o segundo grupo vê os seres humanos da terra firme como ameaça. Conectado à história de Wakanda em Pantera Negra, Wan opta por agir de maneira distinta ao não deixar o lado diplomático do macro ser aprofundado na trama principal. Para o realizador é importante dar foco às pequenas dinâmicas da narrativa - o que pode ser um ganho, visto que, mesmo quando se apega a megalomania, a atenção do realizador está nos personagens.

    Vemos Aquaman e seu irmão Orm trabalhando juntos para salvar o planeta, enquanto Arraia Negra passa a lidar com a influência do Tridente Negro. Chegando a um ponto irreversível nas mudanças climáticas, a população de Atlântida passa a lidar com a impotência de um poder ancestral ao mesmo tempo em que pesa a possibilidade de se revelar para o mundo.

    Star Wars e O Senhor dos Anéis ao som de uma ópera subaquática

    Warner Bros.

    Depois de conhecer uma versão alternativa à Atlântida pelas lentes de Ryan Coogler, em Talokan de Pantera Negra: Wakanda Para Sempre, é bonito ver como essas leituras sobre este reino submerso podem coexistir. Abandonando qualquer discussão sobre como os personagens se movem e interagem sob a água, já que esta estética está mais do que estabelecida por James Wan, pode-se abraçar uma aventura colorida e vibrante.

    Se em Aquaman o público teve um vislumbre sobre a vida no fundo do mar, O Reino Perdido mergulha fundo nesta sociedade que se mostra cada vez mais mista ao decorrer da história. É impossível acompanhar parte da rotina dos civis, de jantares românticos a festas em boates clandestinas, sem lembrar de inúmeras passagens de Star Wars. A oportunidade em apresentar novas espécies, mostrar o lado vibrante desta sociedade - que não vive apenas para acompanhar os feitos heroicos do rei -, é um como adentrar em uma piscina refrescante em um dia de sol.

    Warner Bros.

    Tendo James Wan como o condutor de toda a narrativa, responsável pelas franquias Invocação do Mal e Jogos Mortais, é quase impossível que o longa não tenha flertes com o terror. Assim como Sam Raimi colocou sua assinatura em projetos de heróis como Homem-Aranha 2 e Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, o cineasta aproveita momentos-chave para dar o seu toque de horror. Nada que seja realmente amedrontador, mas sempre são cenas que estão sob essa esfera sombria, de medo e fascinação. Essas tomadas, inclusive, parecem ser apenas um lembrete de um projeto descartado, um spin-off soturno de Aquaman focado em criaturas bizarras que provavelmente teriam raízes lovecraftianas.

    O cineasta ainda aproveita seus últimos momentos com este universo rico e criativo para fazer outras homenagens. Além da franquia criada por George Lucas, há uma sequência inteira que faz referência a outra lenda cultural: J. R. R. Tolkien. Para explicar o que é, de fato, o Reino Perdido, James utiliza uma estrutura semelhante ao que foi visto em O Senhor dos Anéis, apresentando uma crônica fabular dentro do filme. Parceiro da Warner Bros. há décadas, estúdio que detém os direitos de adaptação da saga literária de fantasia, o realizador toma liberdade para se inspirar na aclamada obra.

    Paternidade sob ameaça do aquecimento global

    Warner Bros.

    À primeira vista, Aquaman 2: O Reino Perdido parece conceber uma cartilha simples: o projeto tenta manter a energia despretensiosa vista no longa anterior, tendo a comédia e sequências entusiasmantes como condutores, enquanto busca apresentar arcos emocionais sem reais esforços. O resultado é muito semelhante ao que foi visto em 2018, com um filme divertido que majoritariamente parece estar ciente de si mesmo e só não é mais instigante porque pesa a mão em pequenos melodramas com diálogos fracos e algumas cenas um tanto caricatas.

    Não demora muito para entender que o herói está deixando alguns pratos caírem enquanto tenta conciliar suas tarefas. Fazendo mais um paralelo com a concorrente do estúdio, parece que a era dos papais finalmente chegou - enquanto Arthur lida com seu primeiro filho, vimos tramas parecidas com Thor em Amor e Trovão, Homem de Ferro em Vingadores: Ultimato e Scott Lang em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Essa tomada sempre humaniza tais seres superpoderosos, pois nos lembra que todos envelhecem e precisam amadurecer.

    Trazer a paternidade à premissa do longa ainda tem relação com um dos principais temas do projeto: o aquecimento global, o medo constante das ações do homem no planeta. Sentindo o nascimento da responsabilidade em pensar no futuro de seu legado, personificado pela criança, Aquaman precisa deter acontecimentos estranhos que têm acelerado o processo das mudanças climáticas - algo que está atrelado ao antagonista, Arraia Negra. Não que seja uma novidade completa no cenário, mas é interessante que essa pauta entre em um blockbuster como esse.

    Com tantos arcos a serem trabalhados, parece razoável apresentar esta narrativa em pouco mais de duas horas. No entanto, a aventura procedural, cheia de cenários, cores, um impressionante CGI e batalhas competentes fica cansativa em algum ponto, principalmente com a típica fórmula do 3º ato vista em projetos como esse. A partir da montagem truncada e cenas dramáticas desinteressantes, o filme não escapa de problemas. Porém, Aquaman 2 não deixa de ser divertido, uma ausência em parte dos filmes do Snyderverso. Dessa forma, a despedida deste universo suaviza a despedida deste ciclo tão amado e conturbado da história da DC.

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