Essa é a mistura do Brasil com... a DC!
por Katiúscia ViannaBesouro Azul pode não ter a fama de um Superman ou Batman, mas é um dos filmes mais esperados de 2023. Pelo menos, para os latinos - e o Brasil também está envolvido nessa história. Afinal, somos todos patriotas quando o assunto é Copa do Mundo ou atores brasileiros fazendo carreira em Hollywood. Então, por mais que Xolo Maridueña (Cobra Kai) seja o protagonista, bonito mesmo vai ser o povo vibrando pela estreia de Bruna Marquezine na DC. Mas será que Blue Beetle (no original) consegue se destacar dentre dezenas de filmes de heróis?
O novo herói da DC é Jaime Reyes (Xolo Maridueña), jovem que acabou de se formar na faculdade e está em busca de uma vida melhor para sua família, vinda do México. Seu caminho cruza com a ricaça Jenny Kord (Bruna Marquezine), que o pede para proteger um pacote misterioso. Dentro dele está o Escaravelho, uma arma destruidora de mundos, que acaba escolhendo o protagonista como seu novo hospedeiro.
Se isso já não fosse confusão o suficiente, o Escaravelho (que tem a voz da cantora Becky G) é alvo de cobiça da tia de Jenny, Victoria Kord (Susan Sarandon), que planeja usar o artefato alienígena para criar armas militares poderosas - indo contra os princípios de Jenny e seu pai. Agora, Jaime será caçado por suas novas habilidades, algo que também coloca sua família em risco.
Quando se trata de um filme de herói, especificamente uma história de origem, o público já pode esperar alguns clichês do gênero. Nesse quesito, Besouro Azul não é a obra mais criativa do mundo. Porém, o que tem de previsível, ele compensa no charme. O grande diferencial é que o filme dirigido por Angel Manuel Soto carrega uma presença latina muito forte, centralizada no conceito de família.
E sim, já sabemos que o poder da família (alô Vin Diesel!) é mais forte que qualquer outra coisa - algo que pode ficar muito chato repetitivamente (estou falando com você, série The Flash!). Mas também mostra uma realidade em que, provavelmente, seria impossível uma família latina não descobrir que um de seus parentes é um super-herói. Seria o papo do almoço de domingo toda semana.
Então, faz sentido que a força de Jaime esteja em sua família. Assim, o público, principalmente latino, vai se identificar com as diversas referências da cultura mexicana na trama - não vou estragar a surpresa, mas posso garantir que alguns queridinhos dos brasileiros aparecem nessa jornada. O foco emocional (e humorístico) da história é mais imponente do que seus efeitos visuais simples demais ou as reviravoltas de roteiro. Na verdade, nada é muito surpreendente, talvez só algo relacionado com a Vovó (Adriana Barraza), a melhor personagem.
Mas falar dessa família é impossível sem elogiar a escolha de elenco. Todos os membros da família Reyes constroem uma química bem divertida entre si. Começando pelo seu protagonista: Xolo Maridueña merece seguir na DC pós-reboot de James Gunn, pois ele constrói um Jaime muito bondoso, mas que também sabe se divertir durante uma porrada - algo que ele já faz muito bem em Cobra Kai. Ele traz vulnerabilidade e energia para o personagem, prometendo ser um grande astro de ação da nova geração de Hollywood.
O restante da família Reyes é formada pela típica irmã mais nova, Milagro (Belissa Escobedo); o sábio e esperançoso pai, Alberto (Damián Alcázar), o tio maluco Rudy (George Lopez) e a protetora mãe, Rocio (Elpidia Carrillo). Além da já citada e querida Vovó, é claro. Alguns são alívios cômicos, outros são bases dramáticas, mas todos representam um grupo cativante.
Mas vamos falar daquilo que o povo quer saber: nossa menina Salete, Bruna Marquezine. Para os seus fãs, a boa notícia é que Jenny é a protagonista feminina do filme, servindo como interesse amoroso de Jaime (o que shippo completamente), mas sendo também o pontapé inicial para a história. Isso quer dizer que ela tem participação bem significativa na trama e consegue carregar bem a função. E tem que ter talento para encarar uma atriz como Susan Sarandon na frente das câmeras. Foi uma ótima estreia em Hollywood e não é à toa que a moça está sendo elogiada pela crítica internacional - e por aqui também, viu?
Sinceramente, é meio difícil fazer uma crítica de Besouro Azul. Porque é um filme divertido, mas sem grandes pretensões. Apesar de fazer referências a Superman, Batman e The Flash, o diretor Angel Manuel Soto não parece estar preocupado em criar mil conexões com um universo cinematográfico. Constrói caminho para futuras continuações? Claro que sim, afinal trata-se de Hollywood (aliás, o longa contém duas cenas pós-créditos)!
Mas sua função é apresentar Jamie, sua família e Jenny - tanto que os vilões vividos por Susan Sarandon, Raoul Max Trujillo e Harvey Guillén não têm muito tempo de tela ou desenvolvimento. O intérprete de Carapax ainda apresenta uma reviravolta, mas, no geral? São coadjuvantes meio esquecíveis (mas fica aqui a alegria por ver Harvey Guillén ganhando cada vez mais espaço em Hollywood: vejam What We Do In the Shadows!).
Num mundo saturado de super-heróis, muitos podem achar que Besouro Azul não pensa fora da caixa. O que acaba sendo verdade. Mas o filme tem coração (por mais brega que isso pareça) e tem uma personalidade diferente dos últimos fracassos quase sem alma que a DC vem lançando. O último a se destacar foi quem? Provavelmente O Esquadrão Suicida, que veio justamente para reconstruir algo que deu um passo errado.
Talvez esteja na hora de parar de se preocupar com os clássicos (apesar do Superman de David Corenswet estar vindo aí) e dar espaço para histórias diversas e novas. Besouro Azul não inventa a roda, mas muda o jogo em várias formas. É divertido e emocionante, trazendo rostos novos - que se parecem mais com os fãs, que merecem ver a si mesmos nas telonas. Não sei quanto a vocês, mas eu já sei as histórias da Liga da Justiça de cor. Está na hora de trazer algo novo, mesmo que cometa erros. Espero que James Gunn saiba disso e não desperdice o potencial do Besouro Azul. Afinal, nós latinos estamos sempre prontos para a luta.