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    A Maratona de Brittany
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    A Maratona de Brittany

    Jornada vs chegada

    por Barbara Demerov

    Não é tarefa fácil para um filme andar no limite do drama e alcançar o despretensioso ao mesmo tempo. Isso requer um texto sagaz, dinâmico o suficiente para que as nuances sejam naturais, por mais malucas que possam soar. A Maratona de Brittany garante uma boa experiência pois sabe a qual missão veio: abraçar o cômico com uma camada externa de leveza, mas que por dentro guarda reflexões importantes sobre auto-aceitação e o bom e velho ditado "um dia de cada vez".

    Para Brittany, tudo começa assim, um dia de cada vez. Na verdade, com um passo de cada vez, pois ela precisa sair de uma rotina agitada para cuidar mais de sua saúde e isso requer atenção - além de muita paciência. Quando seu médico lhe indica a fazer academia, a protagonista logo encontra uma solução mais fácil e barata: se exercitar pelas ruas de Nova York. E, como toda pessoa que encontra nos hábitos saudáveis uma forma de mudança generalizada, as metas logo aparecem. Brittany anseia por correr a Maratona de Nova York e este é uma espécie de "MacGuffin" do filme, pois em alguns momentos não dá para ter certeza se essa meta se realizará de fato. Aconteça ou não, felizmente é isso o que nos leva a aproveitar a jornada da protagonista.

    Assim como na vida, pessoas e situações aparecem quando menos esperamos ou planejamos. A narrativa se inicia com a protagonista infeliz com seu corpo e estilo de vida, mesmo sempre parecendo bem aos olhos externos. Dividindo o apartamento com uma amiga que vai se transformando cada vez mais em uma presença tóxica, Brittany, que é vista como a mais engraçada da turma, demora para entender que o importante não é acompanhar as conquistas dos outros, mas sim conhecer e respeitar os desejos e sonhos que estão dentro de si. A trama passeia por alguns elementos clichês, mas ao administrar bem os anseios da personagem, delimita seu intuito de transmitir uma só mensagem: a auto-reflexão.

    Os clichês citados não prejudicam a obra, mas de certa forma a tornam um tanto previsível. Além da ambientação nova-iorquina, com músicas animadas e cores vibrantes, Brittany tem uma família que mora no subúrbio de outra cidade, entra no universo da corrida através da vizinha e conhece seu interesse amoroso em um de seus empregos. São saídas convencionais do roteiro para que sua jornada possa fluir rapidamente, mas em alguns momentos há muitas coisas acontecendo e pouca harmonização entre as diferentes situações apresentadas.

    Em todo caso, A Maratona de Brittany é bem direcionado no que se diz respeito à sua protagonista. A atriz Jillian Bell, além de trazer carisma em todas as cenas, garante uma profundidade sensível na pele dessa mulher que aprende aos poucos o quão importante é se aceitar acima de qualquer coisa, e não como extensão de fatores externos - sejam eles uma maratona, uma amiga que na verdade não torce pela sua felicidade ou um encontro que não deu certo. Por isso, acaba sendo inspirador acompanhar a jornada de Brittany e sua clareza ao perceber que a maratona não vale só pela linha de chegada, mas sim por todo o trajeto (cheio de curvas e pedras) que está à sua frente.

    Filme visto durante a 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2019.

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