Ontem fui à estreia nacional do filme 'Espero Tua (Re) volta', da diretora Eliza Capai. Saí de lá energizada com a força desses corpos insurgentes que em 2015 ocuparam as escolas públicas de Ensino Médio e foram em massa para as ruas para protestar contra um projeto de reestruturação da educação, que obviamente era mais um grande desmonte da educação pública, já tão precarizada na republiqueta brasilis. Na plateia estavam xs jovens que em 2015 eram adolescentes. Eles vibravam com as cenas, uma sessão quente, nós fomos nos contagiando, a memória de luta se atualizando, algo tão necessário nesses tempos de reatividade, em que nem sempre é tão simples manter a saúde e a alegria. As ocupações foram verdadeiros laboratórios de auto gestão, vida em comum, construção de processos de aprendizagem bem menos careta do que os da vida escolar padrão. Poder debater na escola sobre feminismo, lutas anti racistas, estudar história, a ditadura militar, organizar-se por assembleias.... foi mesmo um grande caldeirão de transformação de subjetividade, de modos de vida. Acompanhamos a Marcela que foi transformando as marcas do racismo e assumindo sua ancestralidade, seu corpo negro, sua beleza. Vemos ali as experimentações no campo da sexualidade, da corporeidade. O filme conseguiu de fato trazer as múltiplas vozes e camadas que compuseram aquela experiência, fazendo as devidas pontes com a experiência das ocupações estudantis no Chile, com Junho de 2013 e também com as forças em jogo em nossa sociedade, a desigualdade social, o golpe, os homens brancos e héteros nos cargos de chefia do governo e seu habitual comportamento de porta, de cinismo e de governo para poucos, com abundância de violência e vida miserável para muitos. Com muita sensibilidade, em meio aos grandes protestos de rua, e essa efervescência das manifestações, o filme também conta que essa luta também produziu traumas, depressões, crises de ansiedade e pânico e que apesar de todos os aprendizados e conquistas, há ali uma batalha totalmente desproporcional com a truculência e perversidade da polícia militar. Quem puder assistir, assista. As sessões no MIS são gratuitas para estudantes de escola pública. E também é possível organizar exibições. Dá para ver mais informações na página. Parabéns Eliza e toda sua equipe, espero que o filme possa circular e polinizar muitos corações para insurgência:)