Pra começar eu já gostei do clima de vila, de cidade pequena. Apesar de ter um enquadramento escrito Paquetá bem na hora que o funcionário da farmácia pula na piscina, depois que eu fui ver que se passa na Ilha. Sou do Rio de Janeiro e acho que estive apenas uma vez nesse lugar durante a infância. Me bateu saudade..
A personagem de Marieta Severo simplesmente não morre. Ela está sempre ali. Mas na cabeça do marido. O tempo inteiro o diretor mistura ficção e realidade porque é justamente o que se passar na mente do viúvo. Isso é tocante no filme; de uma sutileza.. A perda de um ente querido causa isso nas pessoas.
Na parte em que Otto pede a uma das vizinhas para trocar a lâmpada, fiquei imaginando que ele dá com o grampeador na cabeça dela. ;-) Tudo obra da imaginação. O mais engraçado são os outros personagens; bem caricatos, aliás. O funcionário (e também entregador) da farmácia é extremamente detalhista, assim como os carteiros. Cada um ao seu jeito. E isso garante o fio da meada investigativo do filme. Quem assiste vai entrando naquelas paranoias todas.
Otto começa até a frequentar a quermesse, um hábito de sua esposa. Esse é o resgate do afeto perdido.
No final, Otto se rende,na sua imaginação ao comprimido que combate insônia aconselhado pelo funcionário - na cena em que o mesmo se oferece para entrar na casa e trocar a lâmpada. E ficamos sem saber se realmente os comprimidos causam a insônia ou a saudade + os chás de alface são os causadores de uma melancolia já beirando a depressão.
Os críticos foram implacáveis e disseram que a trama tem excesso de personagens e a transição entre o drama familiar para o thriller policial é mal feita. Eu discordo. Otto criou um teatro onde ele mesmo manipula exaustivamente todos os moradores. E os críticos lembraram da couve-flor à milanesa e ignoraram o principal: o quebra-cabeças.