A primeira metade do filme funciona muito bem como uma fantasia infanto-juvenil dedicada ao dinamismo de uma mise-en-scène da descoberta. Chega a ser até um alívio um filme desses entregar um início que recusa certa sobriedade e problematizações já bem desgastadas pelo cinema contemporâneo e, ao invés disso, partir quase que diretamente para esse fantástico travestido de ficção-científica.
É verdade que algumas coisas são irritantes desde seu início, como a necessidade de inserir frases espertinhas para a personagem nerd, como uma versão mirim de um personagem de Big Bang Theory já muito datado pela exaustação dessa temática. O humor no geral é bastante irregular nesse sentido, ainda que preserve certa ingenuidade de algumas relações (o garotinho do podcast é muito bom nisso), a dinâmica do casal adulto é enfadonha. Tem algo muito de Marvel na maneira como o diretor enche essas cenas de sacadinhas que acabam esvaziando o caráter dramatúrgico próprio do que ocorre em tela. Acaba também emulando muito o MCU no desinteresse de suas cenas pós-créditos (nesse sentido, o Reitman parece mesmo pronto pra dirigir algum filme vindouro da franquia).
Mas é o uso do CGI, que atinge um artificialismo muito bom ao referenciar os filmes dos anos 80, e direção de algumas cenas, muito eficiente ao não truncar a ação em demasia, que mantém o filme, especialmente nessa metade inicial, num patamar interessante. Os melhores momentos nesse sentido são as cenas de perseguição ao fantasma comedor de metal. Reitman até arrisca alguns planos mais longos ao conectar o carro dos garotos ao espectro com movimentos de câmera que preservam algum dinamismo e evitam uma maior confusão espacial.
O filme acaba despencando mesmo da metade pro fim, essencialmente quando a narrativa progride para essa exploração maior do misticismo em torno da mitologia dos fantasmas. A partir do momento em que os personagens descobrem a razão dos terremotos, até o desenrolar da libertação de Gozer, tudo piora muito, seja em direção de cenas, seja na tentativa de extrair algum humor destas situações.
Se a dinâmica do casal já era fraca, por se desenvolver a partir de uma comédia genérica e não escapar disso, não é convincente quando o filme tenta reconfigurar isso num certo pastelão. Isso se dá justamente porque, ao desenvolver boa parte das suas relações através dessa verossimilhança dramática que bebe muito da contemporaneidade dos blockbusters, a mudança de chave para algo mais caricato soa oportunista. Parece mesmo um recurso barato pra tentar justificar a existência desses eventos no roteiro de um filme que até então buscava suas forças em dinâmicas mais ingênuas, estranhas ao seu incidente derradeiro e, supostamente, central da trama.
É sintomático, então, que o deus ex-machina dos personagens dos anos 80 surge quando o filme já parece não saber mais para onde ir que não fuja do protocolar. Se essa aparição incita as emoções dos fãs da franquia, tanto melhor para que Reitman retire o holofote aqui de sua direção irregular. Soa oportunista, assim como muito do que essa metade final entrega. Mesmo assim, é um alívio ver que o diretor (ou, talvez, a edição do filme) se furta de entregar piadinhas espertas no entorno do momento mais sensível do filme, quando o espectro de Spengler encontra sua filha. Uma cena, ainda que breve, sincera na sua dramaticidade (talvez Reitman ainda não esteja totalmente pronto para o MCU) e econômica na sua concepção visual.
Acaba sendo então um filme que sofre para se desvencilhar de alguns preceitos padronizados pelo cinema blockbuster contemporâneo. O que é prejudicial, tendo em vista a eficiência de Reitman quando se mostra dedicado a uma abordagem mais honesta e despreocupada nas cenas de ação da metade inicial. Assim, deixa de ser realmente um achado do gênero para diluir-se no mar de filmes semelhantes sendo produzidos anualmente.