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    Emma
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Emma

    Uma adorável revisita

    por Barbara Demerov

    "Emma" já não é há muito tempo uma história inédita ou surpreendente. Desde as diversas séries para a TV (datadas a partir de 1948) até chegar às adaptações cinematográficas - tanto a versão atualizada de Patricinhas de Beverly Hills, em 1995, quanto a mais fiel, protagonizada por Gwyneth Paltrow em 1996 -, o último romance escrito por Jane Austen tornou-se um de seus mais conhecidos. Afinal, a maneira com que trata a nobreza inglesa, mesclando leveza e ironia com romance e bons modos, permanece atual e digna de revisitas mesmo após duzentos anos.

    E é exatamente disso que se trata Emma., adaptação protagonizada pela jovem Anya Taylor-Joy (A Bruxa, Fragmentado) e disponível em VOD: o filme aproveita amplamente esta oportunidade de aproximação para com um universo já conhecido sem preocupar-se em atualizar ou alterar algumas de suas características nativas. Graças à sagacidade de Austen na época, não é preciso contornar perfis de personagens ou situações, pois é justamente o estilo do todo que torna a visão particular da escritora tão florescente na tela.

    Ao contrário de estarmos frente a um texto e cenário que não apenas não se encaixam em nossa atualidade, mas que também soam equivocados, somos (re)apresentados a uma personagem digna de falhas que espelham bastante a época em que vive, assim como de qualidades louváveis que vão surgindo aos poucos. Nem mesmo Emma sabe ao certo que pode ser empática com quem está à sua volta, tampouco nutrir sentimentos amorosos por um homem - já que seu principal plano é o de nunca casar para fazer companhia a si mesma e a seu pai (interpretado aqui pelo ótimo Bill Nighy).

    ROMANCE ÀS AVESSAS

    Emma., com a adição inusitada de um ponto final no título (que talvez possa ser observado como uma visão atualizada e/ou definitiva da personagem de Austen), transparece até mesmo certa inovação dentro das próprias limitações. Não necessariamente quando falamos da questão artística e técnica, pois o filme é bastante tradicional (e muitíssimo bem executado) dentro dos padrões de produções de época, mas sim no jeito como conta uma história de romance às avessas. E isso é feito do jeito correto, sem romantização excessiva, priorizando sempre o olhar da protagonista: um olhar cético, distante e convencido de que as coisas são como ela as enxerga - sem possibilidade de mudanças ou transformações. A jovem Woodhouse vai além do que nos é resumido no prólogo: "Bonita, inteligente e rica".

    Por ela acreditar tanto que o amor nunca poderá bater à sua porta, é muito interessante acompanhar a jornada de Emma tanto enquanto jovem individualista até quando ela alcança o nível de insegura com relação às descobertas que estão à sua frente. A protagonista possui similaridades com Elizabeth Bennet, de Orgulho e Preconceito, mas de certo modo é como se Emma fosse uma versão mais despojada da moça sem filtro e paciência para lidar com a corte. Emma age de forma idêntica, mas também é inevitável observar o quão proposital é trazer tal semelhança para desmistificar as próprias figuras utópicas que Austen criou anteriormente. Este era o foco da escritora na época, mas de todo modo é bem satisfatório ver tudo tomar formas tão bem delineadas.

    A nova adaptação de Emma. traz todo um clima que imediatamente revive a essência de Jane Austen, ao mesmo tempo em que brinca com elementos objetivos e realísticos dentro de uma fantasia não se leva tão a sério. Taylor-Joy capta perfeitamente as nuances desta personagem que, da mesma forma que é controladora, possui uma inocência latente. Isso faz com que o espectador se aproxime tanto de suas preocupações mais complicadas (especialmente com relação ao seu pai) quanto com quem sua amiga Harriet (Mia Goth) irá se casar. Com ótimas adições cômicas que não tiram a pureza do gênero, Emma. certamente deixaria Austen tranquila, pois o que pode ser encontrado nas entrelinhas de seu livro ganha bastante destaque.

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