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    Brincando com Fogo
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Brincando com Fogo

    Família se escolhe

    por Barbara Demerov

    Um protagonista viciado em trabalho e apegado ao passado, colegas bombeiros bem atrapalhados e três crianças que precisam de um lar temporário. Este combo é mais do que o suficiente para que uma trama sustentada por piadas, situações bizarras e uma breve lição de bondade (juntamente com o ensinamento do que realmente deve importar na vida) seja instituída de uma vez só. E é o que acontece no filme dirigido por Andy Fickman (Ela é o Cara), que prioriza uma montagem apressada para contar uma história sem muitos conflitos, apegada ao sentimentalismo.

    Apesar de ser cativante muito por conta de seu elenco, Brincando com Fogo carece de mais intensidade no que se diz respeito à dinâmica da "família" que nasce aos poucos no posto de trabalho que Jake Carson (o carismático John Cena) comanda. Desde o princípio fica muito clara a dedicação de Jake enquanto bombeiro, mas o background do protagonista não se conecta de forma natural com a ambientação que o cerca. E isso não acontece apenas pelas piadas ditas quase que a todo o momento, mas também pela relação que ele possui com seus colegas (incluindo Keegan-Michael Key e John Leguizamo). Jake é como se fosse um pai para todos ali, mas ao mesmo tempo se mantém cercado por um bloqueio emocional invisível que pode ser comparado ao grande porte do ator.

    Partindo de um lugar-comum que apenas algumas comédias focadas no âmbito familiar têm a capacidade de entregar, Brincando com Fogo conta com personagens cativantes, mas a rasa profundidade que nos é entregue aparece como o maior percalço do filme, dificultando seu próprio crescimento narrativo. As inúmeras situações cômicas são abordadas pela direção e montagem como se fossem esquetes independentes uma das outras, fazendo com que o arco principal seja esquecido em momentos que deveriam ser a chave de um conflito ou, simplesmente, o catalisador de emoções mais verdadeiras.

    Mas, apesar de ser previsível até demais e aproveitar em cada personagem presente (inclusive na cientista interpretada por Judy Greer) um atalho para que o clichê seja inserido pontualmente, o filme possui carisma. Sim, aqui estão as crianças sem pais, o protagonista que esconde sua sensibilidade sob uma carcaça de frieza, os amigos de trabalho que sempre têm uma piada pronta. Porém, há também bastante entusiasmo por parte do elenco em transformar as já citadas "esquetes" em momentos que divertem, por mais malucos que eles sejam - ou por mais que brinquem com piadas que mexam com atos comuns para mulheres (como limpar a fralda de seu filho), mas que para homens pode ser algo mais difícil que apagar um imenso incêndio. Piadas como essa, quando já estamos com um pé em 2020, não têm mais o mesmo resultado como já tiveram em décadas passadas.

    Contudo, o que há de mais interessante em Brincando com Fogo reside no elemento transformador de Jake, que está no fato dele ser bombeiro e é implícito logo após salvar as três crianças de uma casa em chamas. Ele não entende, a princípio, que salvá-los também condiz com um resgate próprio, por vias de memórias do passado que guardou num canto empoeirado. Um piano antigo, uma brincadeira com uma criança ou a simples ida ao shopping para comprar presentes podem parecer banais, mas na história tudo isso já é o suficiente para que haja uma transformação entre todos ali presentes no abrigo. Soa artificial quando pensamos na facilidade com que aquelas pessoas puderam se unir em um único final de semana, mas não deixa de ter certo brilho digno de comédias que não se atentam aos detalhes, mas sim na mensagem final: família é aquela que se escolhe.

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