Adolescência superficial
por Barbara DemerovHistórias de amadurecimento na juventude englobam situações similares: relacionamentos amorosos, sonhos profissionais, viagens e a tentativa de fazer tudo dar certo à distância. Quantos filmes já não vimos que possuem algumas ou todas estas características? Bia 2.0, primeiro longa de Cristiano Calegari e Lucas Zampieri, é uma mistura de muitas coisas, sem que isso necessariamente implique em um resultado convincente.
Com a câmera praticamente estática o tempo todo, tendo como intuito apenas mostrar os acontecimentos com certa distância (inclusive emocionalmente), este romance possui muitas camadas dentro de seu roteiro, mas nenhuma delas entrega sensibilidade ou drama necessários para que possamos nos sentir na pele daqueles personagens.
A protagonista Bia (Maju Souza), que está próxima de seus 20 anos, não irradia tanta convicção ao viver suas experiências de desilusões e aprendizados como todo e qualquer jovem. Pelo contrário, a personagem não se sobressai no que fala ou faz, tendo pouca força em tela. Isso também se deve ao roteiro, que passeia por tantas situações e direções que acaba não tendo foco algum, especialmente na segunda metade da narrativa.
Seu namorado Dan (Ghilherme Lobo), que conheceu em um projeto de clown (que é inserido na trama de forma superficial), possui por vezes até mais destaque do que a própria Bia, pois podemos entender o que está passando em sua vida ao invés do que acontece com a protagonista - que chega a viajar para estudar no exterior e se ausenta da narrativa em certo ponto. Este é um dos maiores problemas do filme: o intuito de contar a história de uma jovem que busca se conhecer melhor não é realizado. O resultado acaba sendo uma história que toca em vários personagens, várias realidades e, ainda assim, nada sólido ou inédito se sobressai.
O pouco que o roteiro alcança não chega a auxiliar no tratamento de personagens, que, cada um à sua maneira, saem como cópias estereotipadas de outros filmes do gênero. Temos um amigo gay, uma amiga rebelde, uma mãe presente, um outro pai com uma grave doença... E também a própria, que age de maneira infantil e mimada até em momentos mais sérios. Por se perder ao seguir fórmulas batidas, Bia 2.0 não passa um tom sério bem-vindo à filmes sobre adolescência e nem diverte como comédia despretensiosa.
Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.