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    O Ingrediente Secreto
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    O Ingrediente Secreto

    Space cake sem sabor

    por Taiani Mendes

    A menção solta ao blockbuster A Origem logo na sequência inicial de O Ingrediente Secreto é a dica: foi com Hollywood na cabeça que o cineasta Gjorce Stavreski escreveu e dirigiu esta comédia dramática macedônia sobre um mecânico que cura o pai do câncer com bolos de maconha, mas se vê em apuros com doentes de todas as espécies e traficantes no seu encalço.

    O protagonista, Vele (Blagoj Veselinov), é rapaz esforçado, trabalhador, que dá a vida pelo pai, mesmo sendo por ele rejeitado. Marcado pela trágica morte da mãe e do irmão, tem como defeito essa questão emocional mal resolvida e algumas mentirinhas/omissões, sempre com a melhor das intenções. Seu melhor amigo é o alívio cômico, um adolescente velho estacionado nas piadas sexuais; os vilões são atrapalhados e humanizados; e Vele se ferra bastante enfrentando uma sucessão de contratempos, como prega a cartilha do mocinho injustiçado que precisa tocar o coração do público.

    O esquema é simples e a mensagem é cristalina: maconha e não homeopatia representa a verdadeira medicina alternativa milagrosa, e está muito difícil a vida na Macedônia. As críticas ao sistema de saúde, falta generalizada de dinheiro, crise, abandono e desespero geral são o tempero local (mas cada vez mais global) de uma receita que, fora isso, poderia ser originária de qualquer país, afinal adota estilo estabelecido e difundido mundialmente pelas produções de estúdios estadunidenses, com personagens, dramas, traumas, reviravoltas e atitudes burras nada inéditas.

    Permitida no país para tratamentos médicos, a maconha tem seus efeitos benéficos exagerados pelo roteiro, que zoa e chama de ignorantes seus opositores, atacando a moral vigente ao apresentar a planta como aliada na luta pela sobrevivência diária numa terra sem esperanças. O Ingrediente Secreto não chega a ser um filme maçante, mas resulta decepcionante pela submissão de sua peculiar premissa a um modelo de cinema funcional, no entanto pouco estimulante. Stavreski não precisaria abrir mão de seus inúmeros planos por cena para aprofundar suas pautas, porém preferiu fazer um draminha solado pronto para ser refilmado nos EUA e premiado no Festival de Sundance. Ao espectador resta a fome.

    Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.

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