À primeira vista, “O Escândalo”, filme dirigido por Jay Roach, é um longa que engana a gente. Numa linguagem vista em obras recentes, como “A Grande Aposta” e “Vice”, de Adam McKay, parece que iremos assistir a uma obra sobre a dinâmica profissional existente na Fox News, rede de notícias conservadora e um dos canais mais controversos da imprensa norte-americana.
Porém, o filme enfoca, na realidade, o caso que levou à demissão de Roger Ailes (John Lithgow), o todo poderoso CEO do canal e gigante do telejornalismo norte-americano. Acontece que Ailes foi acusado por 23 mulheres, profissionais do canal, de assédio sexual - uma notícia que caiu como uma bomba na época de sua divulgação, em 2016.
Neste sentido, o roteiro escrito por Charles Randolph enfoca três figuras femininas, representantes de diversos escalões da Fox News: a apresentadora Megyn Kelly (@charlizeafrica), que vivia um enorme sucesso; a âncora Gretchen Carlson (@nicolekidman), que vivia um momento descendente na carreira; e a produtora Kayla Pospisil (@margotrobbie), que buscava uma chance de conquistar o tão sonhado posto de apresentadora. Todas elas, em algum momento, serão vítimas de Roger.
O interessante em “O Escândalo” é a análise que é feita sobre o que a mulher tem a enfrentar quando se depara com uma situação de assédio sexual num ambiente de trabalho. Se ela revela o que lhe ocorreu, pode sofrer represálias. Se ela não compartilha o que lhe aconteceu, isso pode ser sintomático do medo da perda daquilo que conquistou. Se ela consegue que o sistema mude, mesmo que temporariamente, ela sempre ficará com a pulga atrás na orelha, um incômodo chato, uma sensação de culpa. Afinal, vivemos num mundo dominado ainda pelas figuras masculinas em postos de poder. Ou seja, o que “O Escândalo” nos revela é que as mulheres da Fox News não serão as primeiras - e nem as últimas - a passar por algo do tipo. A diferença é que elas tiveram a coragem de enfrentar e de denunciar o que lhes ocorreu.