Um Noir dos Balcãs: Crítica AdoroCinema

A cada trago no cigarro, uma sensação de urgência. E a cada um finalizado, uma sequência comercial em preto e branco que contrasta com a sobriedade do tema abordado. É com este ciclo que Um Noir dos Balcãs é trabalhado: não há cenas em que pelo menos um dos personagens estejam sem um cigarro em mãos, e nenhuma cena traz uma sensação de bem estar.

O noir, como já diz no título, não condiz muito com a história em si, pois o drama familiar entre dois pais que tiveram sua filha desaparecida há 5 anos possui uma atmosfera atual. No entanto, o estilo cinematográfico se faz presente na ambientação, no jogo de luzes e nas cores quentes. A mescla desta estética atraente com o drama funciona até certo ponto, mas a repetição da estrutura vai perdendo seu sentido aos poucos.

O fato de todas as passagens possuírem a presença de um personagem fumando do início ao fim vai tornando possível a "adivinhação" de quando a cena poderá acabar, pois quando o cigarro chega ao fim, o diálogo em questão também cessa; mas há a exaustão de tal escolha. E existe também a tentativa do diretor de dinamizar ainda mais suas cenas ao inserir cortes pretos quando alguém tenta acender o isqueiro - o que também se torna maçante.

O modo de contar este drama é interessante e não deixa de ser original, mas além das questões citadas, a montagem de Um Noir dos Balcãs não auxilia a clarear se tal passagem é um flashback ou não, o que é essencial para nos aproximarmos dos personagens - ainda mais diante de uma história densa e triste.

Apesar de possuir um ritmo ligeiro e começar de maneira promissora, o longa não se compromete tanto em explicar questões como o próprio desaparecimento da filha do casal ou até mesmo a sede de vingança da mãe Nina (Disa Ostrand), que torna abrupta sua mudança de personalidade. Em suma, Um Noir dos Balcãs se sobressai em estética, mas falha em convencer pelo principal: o conteúdo.

Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.