O documentário A Última Abolição, dirigido por Alice Gomes, busca refletir sobre as consequências da escravidão e como elas ainda ressoam na sociedade brasileira. O filme é um esforço pedagógico, com foco na conscientização sobre o racismo estrutural, usando uma abordagem informativa e acessível, com depoimentos e imagens históricas para revelar o impacto contínuo da escravidão. É uma obra que propõe um debate urgente sobre a negritude e a luta pela emancipação do corpo negro, temas que permanecem extremamente atuais no Brasil.
A diretora, em seu primeiro trabalho como cineasta, acertou ao escolher um formato que atenda tanto a públicos mais amplos quanto mais acadêmicos. O uso de entrevistas e colagens imagéticas traz uma linguagem educativa, apesar de, em alguns momentos, o ritmo intenso das informações gerar uma sensação de caos. Isso, porém, pode ser interpretado como uma escolha formal, refletindo a complexidade do tema.
O filme também se destaca pela produção cuidadosa, com um trabalho intenso de pesquisa e a colaboração de figuras como Luciana Barreto, que conduziu as entrevistas, respeitando o "lugar de fala". O documentário se destina a ser uma "aula sobre o Brasil", cobrindo temas como o racismo, a desigualdade social e a resistência negra, com a intenção de desmistificar a ideia de que o Brasil vive em uma sociedade sem racismo.
Em resumo, A Última Abolição é uma obra relevante e necessária, que contribui para a educação e reflexão sobre um dos maiores problemas históricos do Brasil. Embora sua forma não seja perfeita para todos os espectadores, o filme cumpre sua missão de expor uma verdade desconfortável de forma clara e impactante.