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    Seis Vezes Confusão
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Seis Vezes Confusão

    Uma comédia desatualizada

    por Barbara Demerov

    Indo além das comédias românticas que lançou nos últimos dois anos, a nova empreitada cinematográfica da Netflix, Seis Vezes Confusão, busca resgatar a comédia dos anos 90 de um modo já esperado: caricato e desengonçado. No entanto, o filme estrelado por Marlon Wayans (Todo Mundo em Pânico) está mais para a bizarrice de Norbit do que para o cativante O Professor Aloprado.

    A comparação com Eddie Murphy, estrela dos dois longas citados acima, é extremamente importante de ser feita aqui. Wayans é fã declarado do ator e suas atuações diferenciadas neste filme certamente nasceram do tipo de humor de Murphy, conhecido por ser descarado e um tanto quanto cínico, dependendo de seus personagens. Mas sua devoção e clara inspiração não foram o bastante para fazer com que suas seis versões se tornassem naturalmente cômicas ou, pelo menos, carismáticas.

    Seis Vezes Confusão bebe da fonte de um estilo de comédia de décadas passadas que hoje são caracterizadas como "filmes para uma sessão da tarde", mas ao mesmo tempo não entrega sequer em seu roteiro um modo do espectador se divertir com os personagens que são inseridos tão abruptamente em tela. A jornada pela qual o protagonista Alan passa ao conhecer cada um de seus irmãos gêmeos apenas serve para que a presença de cada um deles seja justificada. Porém, pouco sabemos da história dos irmãos enquanto indivíduos, pois suas participações só fazem mais sentido quando todos estão unidos.

    Além do texto raso que insere situações completamente superficiais e sem sentido (como é o caso de Alan sair para uma viagem longa em busca dos irmãos enquanto sua esposa está prestes a dar a luz), absolutamente todos os personagens em Seis Vezes Confusão possuem em sua essência algum clichê já desgastado no cinema. Desde o sogro que não aprova o casamento da filha com Alan até chegarmos aos irmãos, que ao todo comprimem características egoístas e inconvenientes das mais diversas, não há nenhuma perspectiva na narrativa que a torne mais coesa ou atrativa.

    É certo dizer que algumas piadas divertirão uma parcela do público que já tem plena noção a que o filme veio, mas exceto por raros momentos de dinâmica entre os irmãos (que acabam de se conhecer, mas, de alguma forma, já se tratam como velhos amigos), não dá para se tirar alguma reflexão sobre o peso que relações familiares têm em nossas vidas. Em troca, vemos pedidos de favores absurdos (como a doação de um rim), conflitos internos frívolos e uma assustadora falta de atualização de um humor já datado para os tempos atuais.

    Em uma das esporádicas cenas que soam mais naturais e cômicas, os irmãos Alan e Russel falam sobre antigas séries de TV (e até filmes como MASH) - seja sobre suas músicas de abertura, personagens ou um determinado carro que marcou a infância de ambos, mesmo que vivendo separadamente. O tom de nostalgia é palpável nestes diálogos e demonstra a clara alusão para uma época que já se foi. Contudo, o simples fato dos personagens continuarem proferindo referências daquelas produções pode ser visto como uma prova da vontade de Wayans, também roteirista, em se manter num passado já inalcançável no entretenimento. Seis Vezes Confusão se encontra numa certa indefinição dentro do próprio gênero, pois se contentou em manter-se no chão firme do que já fez sucesso ao invés de inovar - como é o caso de As Branquelas, talvez o maior sucesso da carreira do ator.

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