O Glauber Rocha é pra cabeças pensantes. Analisar os recursos, contextos e mensagens do filme Barravento é uma viagem que só completa o quebra-cabeça no final, e precisa assistir novamente, pra ter a certeza de que não perdeu detalhes - e sempre perderá. E esse cenário trepidando, como em uma viagem em outra dimensão? Hoje é fácil produzir esse efeito, mas o filme do Glauber é de 1962! Sim, há uma crítica ao modelo escravista brasileiro, que ainda persiste: exploram-se a mão de obra alheia e entregam pouco - uma forma de escravidão, para criar dependência de quem tem dinheiro e poder. Quanto à acidez ao falar do excesso de religiosidade, interpreto o objetivo em mostrar que não se pode ser somente "a" ou somente "b". Precisa ter equilíbrio entre vida espiritual com a vida material, para não se tornar uma vítima, e culpar sempre os outros por suas desgraças. Pra entender do que temos de melhor no nosso cinema, assistir os filmes do Glauber Rocha é ponta de lança nesse processo. Se estiver com a mente pronta, recomendo!