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    O Hotel às Margens do Rio
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    O Hotel às Margens do Rio

    A chegada do fim

    por Lucas Salgado

    O diretor sul-coreano Hong Sang-Soo é um dos nomes mais cultuados do cinema de arte da atualidade. E também é dos mais ativos. Nos últimos três anos, lançou nada menos que seis filmes. O último dele, O Hotel às Margens do Rio foi destaque no Festival de Locarno de 2018 antes de chegar ao Brasil no Festival do Rio do mesmo ano.

    O longa segue a cartilha minimalista do diretor, que sempre realiza obras com poucos personagens em cenários restritos, mas, desta vez, sofre menos com problemas de ritmo e diálogos exagerados, por vezes prolixos.

    A trama é simples. Um famoso e veterano poeta se hospeda em um recluso hotel às margens de um rio. Com o sentimento de que pode estar em seus últimos dias, ele convida os dois filhos adultos para visitá-lo no local. Ao mesmo tempo, uma jovem hóspede sofre com a traição do ex-parceiro, recebendo a visita de uma amiga que tenta apoiá-la.

    Temos ainda eventuais participações da recepcionista do hotel, mas o foco está mesmo neste cinco personagens. Sang-soo tem no poeta seu protagonista, mas consegue desenvolver todos os personagens no entorno. Cada filho tem suas peculiaridades, assim como as duas amigas.

    No que poderia ser facilmente um drama, o diretor e roteirista consegue inserir pitadas de humor que tornam a experiência leve e agradável. E ao mesmo tempo reflexiva. Ele retrata bem a aura do poeta, e também suas falhas, especialmente como pai.

    Em 96 minutos de duração, o filme conta sua história, diverte e faz pensar. A fotografia de Kim Hyung-ku, parceiro de longa data de Sang-Soo e conhecido pelo trabalho em O Hospedeiro, é repleta de belos planos, em sua maioria fixos, mas sempre dispostos a leve inclinação para revelar novos detalhes em cena. O uso do preto & branco também é fundamental aqui, reforçando o sentimento de frio e a branquitude dos cenários tomados pela neve.

    Presente no título, o tal hotel às margens do rio é um verdadeiro personagem da produção. Sang-Soo retrata vários ambientes do local, sempre passando a sensação de reclusão e isolamento. Mantendo mistérios com relação aos personagens a todo momento, o cineasta cria uma obra que é sempre instigante. E permanentemente poética. Neste sentido, consegue algo raro, que é ser ambicioso e poético sem ser prolixo.

    O Hotel às Margens do Rio é uma obra sobre finitude. Seja da vida, seja do amor.

    Filme visto no Festival do Rio, em novembro de 2018.

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