Cinema-aquário
por Lucas SalgadoFrederick Wiseman é um dos grandes nomes do documentário mundial, conhecido por uma forma bem especial de direção. O americano de 88 anos adota um tipo de cinema através da observação, colocando o espectador diante de um aquário que retrata o dia a dia de uma comunidade.
Curiosamente, o cineasta começou a ser mais ativo com a chegada de seus 80 anos. Foram nada menos que sete filmes nos últimos oito anos, com obras de destaque como Em Berkeley, National Gallery e Em Jackson Heights. Agora, chega aos cinemas com Monrovia, Indiana, filme um pouco irregular, mas com momentos muito interessantes.
Após centrar sua atenção em um bairro de Nova York em um trabalho recente (Em Jackson Heights), Wiseman visita um local que é quase que o completo oposto, uma comunidade rural, como várias espalhadas pelo interior dos Estados Unidos.
Na pequena Monrovia, no estado do Indiana, o diretor busca entender o americano média, aquele sujeito simples, trabalhador e conservador, não muito aberto para as diferenças, mas que foi fundamental para eleger Donald Trump em 2016. Sem ser nada panfletário, Wiseman conseguiu fazer uma obra essencialmente política, mostrando o dia a dia e os costumes da população local.
O cineasta visita fazendas de diferentes produções, órgãos oficiais, lojas de bebidas, lojas de armas e muito mais, tudo com o objetivo de retratar pessoas diferentes e seus dias. É interessante notar como a câmera de Wiseman passa quase despercebida. Tudo é muito natural e autêntico.
O ritmo lento do diretor pode ser um problema para os espectadores mais elétricos. Seu cinema oferece quase que uma oportunidade de meditar. É um exercício de conhecimento. Que para ser pleno deve sim ocupar seus 143 minutos de duração.
Ao retratar defensores de armas, fanáticos religiosos e pessoas que não aceitam bem as diferenças, Wiseman traça um panorama da América de Trump. E tudo isso sem julgar seus personagens ou criar paralelos fáceis.
Naturalista ao máximo, Monrovia, Indiana é uma ode ao dia a dia rural dos Estados Unidos, sem nenhum exercício de valor. Wiseman deseja apenas conhecer. E, com isso, aumenta também o conhecimento de seus espectadores.
Filme visto no Festival de Toronto, em setembro de 2018.