O Clichê que Dilacera o SonyVerso
Desde que a Sony iniciou seu projeto de expandir o universo do Homem-Aranha com filmes solo de seus vilões, a aposta em Kraven, o Caçador parecia promissora. Entre os antagonistas do herói, Kraven é um dos mais conhecidos, superando figuras como Morbius e Madame Teia em popularidade. Para dar vida ao personagem, Aaron Taylor-Johnson, um ator carismático e confortável em papéis no gênero de heróis, foi escalado. Contudo, nem mesmo o talento do ator consegue salvar uma narrativa que se perde em sua própria ambição – ou falta dela.
Dirigido por J.C. Chandor (O Ano Mais Violento, Operação Fronteira), o longa parece uma tentativa de unir todos os clichês possíveis de filmes de super-herói, misturá-los em um liquidificador e entregá-los sem tempero algum. Com uma direção apática e um roteiro desastroso, Kraven, o Caçador soa mais como um caça-níquel do que como uma obra que justifique sua existência. O filme, no entanto, foge de um erro comum no SonyVerso: a falsa promessa de conexão com o Homem-Aranha. Dessa vez, o estúdio foi direto e afirmou que não haveria qualquer menção ao herói, o que evita uma frustração adicional ao público.
A maior fraqueza de Kraven reside em seu roteiro. A história tenta construir uma relação dramática entre os irmãos Sergei (Kraven) e Dmitri (Fred Hechinger), enquanto desenvolve a jornada de vingança de Kraven contra seu pai, interpretado por Russell Crowe. No entanto, nada disso convence. As motivações são rasas e os eventos, por vezes, beiram o absurdo – como uma viagem de uma área urbana a um aeroporto isolado que, magicamente, dura menos de cinco minutos.
Mesmo após adiamentos e refilmagens supostamente feitas para aprimorar as cenas de ação, o resultado é um filme que não apenas tropeça em seus erros, mas se afoga neles. As cenas de combate, embora viscerais, não são memoráveis. E quando a violência explícita se torna o principal chamariz de um filme, ela precisa vir acompanhada de algo mais substancial – o que Kraven falha em entregar.
Aaron Taylor-Johnson faz o possível para trazer intensidade ao papel de Kraven, mas sua dedicação não encontra respaldo em um roteiro digno. É lamentável ver um elenco tão talentoso, que inclui nomes como Ariana DeBose, Russell Crowe e Christopher Abbott, ser desperdiçado em performances que não convencem, simplesmente porque os personagens não têm material suficiente para brilhar.
Por mais que o marketing tenha tentado vender Kraven, o Caçador como um filme ousado e violento, a verdade é que a obra não se sustenta. Há, sem dúvida, espaço para histórias de anti-heróis violentos no cinema, mas Kraven é um exemplo de como uma abordagem genérica pode tirar a força de um personagem com tanto potencial.
Quando colocado ao lado de outros filmes do SonyVerso, como Morbius e Madame Teia, Kraven consegue ser, ironicamente, o “quarto melhor” desse universo, ficando atrás apenas dos três filmes do Venom. Não que isso seja um grande feito.
Em resumo, Kraven, o Caçador simboliza mais um prego no caixão de um universo compartilhado que nasceu sem propósito. É um filme que falha em divertir, engajar ou entregar qualquer relevância narrativa. Se a Sony quer manter o SonyVerso vivo, talvez seja hora de repensar completamente a abordagem. Afinal, filmes do universo do Homem-Aranha sem o Homem-Aranha, por mais bem-intencionados que sejam, têm poucas chances de sair do papel de coadjuvantes no grande palco do cinema de super-heróis.