Ação genérica
por Barbara DemerovSalt, Lucy, Atômica, Mad Max: Estrada da Fúria e Anna - O Perigo tem Nome são alguns dos títulos mais recentes do cinema de ação com mulheres protagonistas, sejam elas espiãs ou simplesmente corajosas. Seguindo esta mesma definição, Ava, novo filme da Netflix com Jessica Chastain, se encaixa bem aqui. Porém, toda a execução não segue o mesmo caminho dos demais filmes citados - mesmo com uma ótima atriz no papel principal.
Chastain é Ava, uma espiã aparentemente muito fria que mantém distância de tudo e de todos: das pessoas que ama, de uma vida e de escolhas "normais". Ela é uma assassina exemplar, mas um serviço que deu errado lhe afeta diretamente. Após 8 anos separada de sua família por questões pessoais, a protagonista escolhe retomar contato justamente em um dos momentos mais desafiadores de sua carreira, em que é perseguida por agentes da própria companhia e pode ser traída a qualquer momento.
Em questões de roteiro, Ava não só traz uma história pouco interessante como também não dá camadas mais profundas para a personagem. Através de diálogos expositivos, em que a própria Ava explica o que aconteceu de tão traumático em seu passado para ter de abandonar a mãe e irmã, aos poucos o filme vai nos apresentando o lado mais humano da espiã - sendo que a sequência de abertura indica que poderíamos ver justamente o contrário.
Não é como se essa mistura entre o sentimental e o racional não seja bem-vinda (Atômica, por exemplo, faz isso com bastante qualidade e equilíbrio), mas o problema é que em Ava, além de conhecermos muito pouco a mulher por trás da espiã, nem mesmo suas missões são completamente justificadas ao público. Ela simplesment é uma espiã que trabalha dia e noite à espreita, esperando a ordem para silenciar a próxima vítima. Pelas missões serem tão individuais, o trabalho de Ava soa um tanto artificial. Não fosse a ligação entre uma delas e o vilão de Colin Farrell, a motivação seria ainda mais incompleta.
Thriller de ação decepciona com roteiro superficial e cenas de ação que não impactam
Já para o lado das cenas de ação, também há certa decepção; afinal, estamos diante de um thriller de ação e espionagem. As sequências tinham a chance de ser ainda mais atrativas caso a montagem (extremamente picotada nos momentos de mais movimento) fosse mais contida, assim como os planos que se intercalam de maneira confusa, até mesmo caótica. Tal técnica tira a emoção de cenas de mais impacto.
A performance de Chastain, como o esperado, está acima da média, mas sua Ava necessitava de um roteiro mais dedicado em trabalhar sua personagem ao invés de somente a ação. Como resultado, Ava é um longa que poderia sair do lugar-comum do gênero, mas acaba por entregar uma narrativa previsível e que não faz jus a uma protagonista que, infelizmente, não possui o mesmo brilho das demais mulheres que estrelam os filmes citados na abertura da crítica.