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    Panamá Al Brown, Quando o Punho se Abre
    Críticas AdoroCinema
    1,0
    Muito ruim
    Panamá Al Brown, Quando o Punho se Abre

    Orgulho nacional

    por Bruno Carmelo

    Caso o espectador não tenha muito conhecimento sobre a história do boxe, este documentário informa, repetidas vezes, que Panamá Al Brown foi o primeiro campeão mundial latino-americano de sua categoria. Mais do que isso, ele foi um ícone para a história de seu país, um modelo a seguir. Não bastassem as qualidades do esporte – ele lutava mesmo quando estava doente, numa frequência superior à média dos profissionais –, Alfonso Teófilo Brown ainda era bom dançarino, poliglota, sedutor, e ostentava um corpo perfeitamente equilibrado, de acordo com os depoimentos. O diretor Carlos Aguilar Navarro segue o caminho da idolatria, a instrumentalização do biografado para servir de ícone patriótico panamenho.

    A estrutura é simples, articulando a fala de historiadores com uma narração educativa (“Aqui começa a nossa história”, afirma o narrador com voz grave) e manipulações de fotografias de arquivo. Os diversos homens entrevistados discorrem sobre as primeiras lutas, as viagens para outros países, as vitórias, o ápice, e a queda devido ao álcool e drogas – apenas para ressaltar a sua impressionante reabilitação. De modo análogo ao discurso religioso, as passagens consideradas desfavoráveis são utilizadas para sugerir o milagre da ressurreição. A homossexualidade do boxeador é tratada como uma insinuação vergonhosa: enquanto um depoimento menciona que a sexualidade era um “problema dele”, outro explica que ele não se banhava na mesma banheira que outro homem, e sim “um depois do outro, na mesma água”.

    Tamanho cuidado para preservar a imagem institucional do ícone leva a um resultado engessado. Nunca conhecemos o lado humano de Panamá Al Brown, apenas as reviravoltas de sua vida. O diretor não escuta pessoas próximas dele, não busca documentos, nem outros elementos que tornem palpável a experiência de vida do protagonista. Ele é descrito na terceira pessoa, transformando-se num curioso boxeador cuja voz não se ouve, cujas entrevistas não são vistas, e que praticamente não vemos combater. O roteiro se esforça para evitar que Alfonso se torne uma pessoa de verdade, com fraquezas, desejos, especificidades. Ele precisa ser, acima de tudo, um horizonte moral, uma universalidade, alguém vago o bastante para gerar identificação com todos.

    Paralelamente, os aspectos técnicos são muito fracos, menos por falta de recursos do que pelo uso deficiente dos mesmos. As distorções de fotografias, com filtros riscados para sugerir antiguidade, as pequenas ilustrações com mapas e as animações de recortes de jornal criam uma aparência pueril ao conjunto, que prefere explicar a suscitar reflexão. De que maneira a pobreza influenciou a vida do campeão? Como a sexualidade influenciou a carreira? Como ele adquiriu a fluência em tantas línguas, de que maneira foi acolhido pela sociedade panamenha durante as vitórias e as derrotas? O que o seu corpo excepcionalmente alto e magro trazia de novidade ao combate? Permanecemos à sombra do contexto social.

    Deste modo, Panama Al Brown - Quando o Punho se Abre diz a seu público exatamente o que pensar, e de que modo interpretar cada imagem. Não existe espaço para ambiguidade. O filme trata seu interlocutor como aluno, que presume ser ignorante no tema e pouco habituado à linguagem cinematográfica, necessitando portanto uma explicação pausada, repetida, introdutória. Para o espectador, nada pior do que ser tratado como incapaz.

    Filme visto no 28º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, em agosto de 2018.

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