(Insta @rafaeloy) Fantasia ou Terror? Antes de seguir por qualquer um dos dois caminhos, o fato é que a diretora Gabriela Amaral, após o ótimo “Animal Cordial”, torna-se aos poucos um expoente do cinema de gênero nacional. Se na obra anterior prevaleceu a visceralidade, em “A Sombra do Pai” o campo se abre para o trabalho dos desejos expressos e materializados de forma sutil. A solidão é terreno fértil para a evolução do imaginário da pequena Dalva. Após perder a mãe, o principal amparo afetivo passa a ser a tia. O pai, extremamente introspectivo, é de uma rigidez que infertiliza qualquer manifestação de amor.
A condução da obra privilegia sutilezas como o uso intensivo de simbologias, devaneios do imaginário infantil e em alguma medida insinuações. Por isso, mesmo tendo a classificação de “Terror”, não vá para o cinema esperando palpitação acelerada. Ainda assim, a obra aventura-se no sobrenatural. A responsabilidade desse exercício recai sobre a criança, o seu dom é o de concretizar desejos. As escolhas vão desde episódios tensos, já que é de se imaginar que crianças não têm maturidade para medir consequências, até proposições fantasiosamente doces.
A conexão com o plano metafísico a partir de Dalva poderia ser um recurso magnético, mas acaba sendo um elo fraco. O encadeamento apresentado faz muitas concessões temáticas e não consegue nem ser interessante, nem intimidador. Percorre-se, portanto, o limiar de aberturas narrativas que não convergem para uma crescente interessante. A relação ríspida entre pai e filha teria o potencial de alavancar aflição da porção macabra da obra, mas as investidas são tímidas e ainda precisam dividir espaço com a pauta de crítica social sobre o drama do trabalhador comum. Assim como a parcela da fantasia poderia ser mais perfumada. O desfecho da conexão entre mãe e filha, mesmo recorrendo a simbologias criativas, não ficaram à altura daquilo que se deu tanto crédito ao longo do filme.
Embora não empolgue, “A Sombra do Pai” é uma experiência válida e corajosa.