Fui assistir depois de muitos anos. Não apenas porque não lembrava mais da estória, mas principalmente porque li recentemente o livro As Aventuras de Pinóquio (COLLODI, Carlo. 1883. Itália.) e me emocionei muito. Então, fui assistir para continuar a ter o prazer de apreciar essa estória espetacular. Mas, que decepção! Os produtores (Walt Disney), que não foram fiéis em nada à belíssima estória de Collodi, mudaram e maquiaram tudo. Desde o início, onde, na estória original, Pinóquio tem vida antes mesmo de ser talhado como um boneco, vida esta que no livro não tem explicação. Ele é apenas um pedaço de madeira com vida. Ponto. Mas no filme,
quem dá a vida ao boneco é a fada
, que vem loira (rs) (claro, porque era o padrão de beleza da época (da época?) ao invés dos belos cabelos azuis, característica forte na fada da estória original, que é como uma deusa que protege o Pinóquio. Todo o drama da estória foi maquiado: a miséria de Gepetto, onde ele passa fome e veste trapos. Não tem roupa para vestir Pinóquio, então o veste com papelão. Vende o único casaco, do couro, para comprar uma cartilha para possibilitar que o boneco vá à escola... Um simples monstro, trocaram por uma baleia. O fato de Pinóquio ter passado por tantas furadas (que não aparecem nem metade delas no filme e as que aparecem, totalmente distorcidas) foi simplesmente porque ele era preguiçoso e não queria estudar. Na estória original, o desejo de se tornar um menino "de verdade" sempre foi de Pinóquio, não de Gepetto. A única coisa que colocaram que chegou mais próxima ao livro foi o fato do Grilo Falante ser sua consciência. Que de fato é. Mas com reflexões bem mais profundas do que um simples acompanhante falante. Enfim, maquiaram muita coisa que talvez fossem feias para se colocar em um filme da Walt Disney (principalmente na época), mas eram nestas coisas "feias" e fortes que estavam as lições de vida. Uma pena. Pinóquio virou só mais uma estória bonitinha da Disney.