Vencedor do prêmio de Melhor Filme no 51º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Temporada, longa dirigido e escrito por André Novais Oliveira, está totalmente centrado na figura de sua personagem principal, Juliana (Grace Passô), e está totalmente empenhado, principalmente, em nos retratar um período de mudanças pelas quais ela está passando – transformações essas que terão um impacto em sua vida e na pessoa que ela é.
Quando o filme começa, Juliana está se mudando de Itaúna, uma cidade do interior de Minas Gerais, para a periferia de Contagem, onde ela começa a trabalhar como agente de endemias da prefeitura local. A mudança de emprego significa, além da transferência de cidade, o fato de que Juliana deixará para trás seus familiares mais próximos e o seu marido, que continuará em Itaúna até que o aviso prévio de demissão de seu antigo emprego termine.
Desta maneira, Temporada nos faz acompanhar Juliana na modificação de sua rotina, ou seja, nas novas pessoas que farão parte de sua vida, na adaptação à sua nova atividade profissional, nos desafios de uma vida sozinha numa cidade em que ela não tem nenhuma rede de apoio, na solidão de seus momentos quando ela está no aconchego de seu lar e na apreensão dela para que chegue o instante em que ela, finalmente, se sentirá em casa – e em como ela identificará que ela não ficará, temporariamente, em Contagem…
Por isso mesmo, chama a atenção em Temporada uma decisão estética do diretor e roteirista André Novais Oliveira. Quase que na totalidade das cenas, a câmera adota uma postura estática, sempre fixada em alguém (na maior parte das vezes em Juliana), como que para enfatizar toda a montanha russa emocional que estas personagens vivenciam. Isso nos dá a sensação de que o filme é um tanto anticlimático, principalmente porque, nos momentos em que as personagens se encontram mais vulneráveis, o foco sempre está neles, sem alternância de visões narrativas. Entretanto, isso não faz de Temporada um filme ruim, pelo contrário… É uma das pequenas pérolas escondidas na Netflix, com atores que parecem gente como a gente (por isso que embarcamos por completo nessa história), e que ainda nos apresenta a uma atuação arrebatadora de Grace Passô.