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    Minha Lua de Mel Polonesa
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Minha Lua de Mel Polonesa

    Viagem em busca das origens

    por Sarah Lyra

    Anna (Judith Chemla) e Adam (Arthur Igual) são um casal nascido na França e de origem judaico-polonesa. Em um fim de semana programado para lembrar o extermínio dos judeus na Polônia, eles decidem sair de Paris rumo a Cracóvia, como uma forma de retomarem sua vida de casal — agora comprometida pelo recém-nascimento de um filho — e simultaneamente buscarem um contato maior com as próprias origens. Enquanto Adam é cético quanto ao processo, e participa apenas para agradar a esposa, Anna é comprometida a ponto de beirar a neurose. O formato road trip funciona perfeitamente para a dinâmica posta, pois conduz não apenas o casal, mas também o espectador, por experiências cômicas e inesperadas para um local normalmente associado à barbárie do Holocausto.

    Neste longa, Elise Otzenberger cria um humor inteligente em seu primeiro ato ao nos mostrar o segmento turístico de Cracóvia, fortemente alimentado pela história trágica que ali se passou. Uma "disneylândia do Holocausto", resume um dos personagens, em um tom evidentemente crítico, mas que também permite o riso pelo absurdo da situação. São incontáveis as placas de culinária típica judaica, anúncios de visitas ao cemitério judaico, carrinhos de passeio decorados com os dizeres "A Fábrica de Schindler" e a oportunidade de ver os espaços usados como campos de concentração. Toda uma indústria cujo lucro é impulsionado por um dos genocídios mais brutais da História. Otzenberger consegue equilibrar bem o lado cômico do filme com a triste história do país, mantendo um cuidado constante para não ser desrespeitosa. O foco aqui é criar algo leve, mas sem ignorar o aspecto sombrio da origem dos personagens. É tocante ver a frustração de Anna diante da ausência de informações mais concretas sobre a vida de sua família, assim como seu processo interno enquanto se dá conta de que a desavença com sua mãe é, na verdade, oriunda de uma falta de comunicação e diálogo sobre a avó, o que ressignifica e dá nova importância à viagem.

    O problema de Minha Lua de Mel Polonesa é não saber como preencher o segundo ato. Após uma eficiente apresentação inicial dos conflitos, e sem poder partir direto para o desfecho, o desenvolvimento do filme por vezes se torna repetitivo. A diretora e roteirista até flerta com a possibilidade de adentrar problemáticas mais profundas, como ao abordar o contraste na visão do judaísmo entre Anna e Adam, que poderia impactar diretamente na criação do filho, ou o preconceito com que os judeus precisam lidar até hoje. Adam parece constantemente incomodado com a obsessão da esposa por seus ancestrais e com o fato de precisar ceder constantemente aos desejos dela — como o de circuncidar o bebê e evitar carne de porco na alimentação —, a ponto de irracionalmente desejar que eles não fossem judeus, porque isso tornaria a vida mais simples. Anna, por sua vez, reclama de ter se casado com um homem tão apático em relação à própria história, a quem ela chama de “um judeu antissemita”. Apesar do potencial, as divergências entre o casal são rapidamente abandonadas, e, mesmo quando são exploradas, se tornam mais um recurso para gerar humor do que para criar um conflito mais elaborado.

    Nesse ponto, a falta de recursos narrativos de Otzenberger se torna evidente, principalmente quando notamos na diretora uma tendência a promover insistentemente encontros do casal com poloneses, em que as barreiras culturais e linguísticas são usadas para a comédia, o que é engraçado, em um primeiro momento, mas se torna redundante após tantas repetições — e até caricato na cena do aluguel de carro, quando uma dupla de funcionários desiste de usar as palavras para se comunicar com os franceses e oferece vodca a eles. As fotos do álbum da avó, embora dêem a impressão de serem relíquias de família, são esquecidas após as cenas iniciais, e acionadas apenas em situações específicas em que a diretora claramente tenta coagir o espectador a sentir algum tipo de emoção. Minha Lua de Mel Polonesa tem características próprias, mas opta por não se apoiar nelas. Em vez disso, se transforma, com o passar dos minutos de projeção, em uma comédia das mais comuns, nos deixando com a sensação de ter assistido a uma obra que poderia ter sido muito mais.

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