(Insta: @cinemacrica) - O amor que mobiliza e transforma é o que rege uma ONG que oferece cuidados a crianças e adolescentes com distúrbios psíquicos. O fato de não ter ligações à ordem pública e ser mantida com escassez de recursos antecipa com transparência o ímpeto genuíno em cuidar. Habituados a tatear a temática de aspectos nobres das relações humanas, Olivier Nakache e Éric Toledano, os mesmos de "Intocáveis" e "Samba", realizam nesse filme mais um belo registro.
Contando com atuação inspirada de Vincent Cassel no papel de Bruno, os cuidados da ONG são principalmente compartilhados com seu colega Malik. Cassel incorpora com admirável competência a responsabilidade da demonstração de que perseguir uma vocação, mesmo que afete prazeres pessoais, é o que dá sentido à vida. É verdade que o roteiro circula sobre essa tese com alguma insistência, mas ainda dentro do tolerável, o resultado é uma construção convincente da índole altruísta daquela instituição.
Apesar de não propor um desfecho extravagante do ponto de vista de inflexões chocantes, esse é o tipo de obra que persegue uma crescente de envolvimento tornando o processo de conhecimento o principal objeto. Felizmente, nesse caso, esse processo é prazeroso e emocionante de ser acompanhado. Nakache e Toledano encabeçam uma direção inquieta e a todo momento não cedem ao comodismo de fazer o óbvio. Os planos, além de dinâmicos, que usam algumas longas sequências, por exemplo, usufruem de mise-en-scènes assertivas em explicar o que é administrar uma clínica daquela natureza. O olhar próximo, o caminhar junto, transpassam a visão dos diretores e abraçam a audiência. Difícil explicar em palavras, mas é uma entrega comovente.