Ação nada desenfreada
por Barbara DemerovEntre Esquadrão 6, filme de Michael Bay e um dos mais recentes lançamentos originais Netflix, e Troco em Dobro, dirigido por Peter Berg, a única semelhança é que ambos são filmes de ação. No entanto, o modo como as duas histórias são desenvolvidas é contrastante: enquanto o primeiro foca na megalomania de perseguições e no raso tratamento de personagens, o segundo segue pelos caminhos de uma história bem costurada e que, apenas em determinados momentos, opta por trazer impacto visual.
Troco em Dobro tem em seu personagem principal (interpretado por Mark Wahlberg) uma fonte de características já muito conhecidas: ele era um policial justo, mas que foi preso por tentar intervir num caso que suspeitava ter relação com colegas de trabalho; e possui um senso de heroísmo difícil de ser deixado de lado. Por isso, mesmo após a prisão, retorna ao ponto que parou para tentar encontrar justiça. Wahlberg traz simpatia à Spenser com facilidade, mas isso acontece muito porque ele imediatamente remete certa nostalgia do gênero.
Ele é o policial incompreendido que atrai policiais corruptos ao seu caminho e tenta provar que sempre foi inocente. Mas, apesar de se apoiar em clichês com relação aos personagens e à trama em si, o filme consegue se sobressair devido a um fator que faz a diferença: a boa dinâmica da direção e da montagem. O ritmo nunca se perde ao longo da narrativa e é realmente interessante acompanhar a aventura de Spenser ao lado de seu mentor Henry (Alan Arkin, sempre uma boa presença) e o lutador de MMA Hawke (Winston Duke).
A química do trio, que age ao lado de Cissy (Iliza Shlesinger) em alguns momentos, garante uma diversão que não soa forçada, uma vez que o roteiro evita inserir alívios cômicos que não funcionariam diante da trama principal. Afinal, trata-se de uma história que envolve corrupção e assassinatos, o que não dá tanta margem para piadas fora de timing. Este é o maior acerto de Troco em Dobro, pois o foco nunca recai nas cenas fora da missão de Spenser; a curiosidade do espectador não se afasta de quem são os responsáveis pelos crimes ou suas motivações.
Ainda que o roteiro não deixe tudo tão claro no que se diz respeito às razões dos vilões, Troco em Dobro não perde seu bom nível de entretenimento por não querer forçar ser algo a mais dentro do que se propõe a executar. A história é simples: temos os bons vs. os maus, os good cops vs. os bad cops e assim por diante. É um acerto no alvo diante dos demais filmes que vêm sendo lançados pela Netflix por simplesmente se ater aos elementos que o gênero de ação deve, em teoria, possuir: elenco entrosado, trama que se sustenta e humor pontual e certeiro.