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    Fuja
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Fuja

    Suspense, manipulação e representatividade

    por Vitória Pratini

    Uma mãe superprotetora que faria tudo pela filha ou uma mulher aterrorizante que pratica abusos psicológicos? Esta é uma linha tênue pela qual transita a personagem de Sarah Paulson em Fuja. A atriz é conhecida por seus vários papéis no universo televisivo de Ryan Murphy, como American Horror StoryRatchedsérie que se propôs a contar a origem da enfermeira tirana de Um Estranho no Ninho. Logo, é de se imaginar que Paulson seria mais uma vez uma antagonista incompreendida e perversa. No entanto, o filme consegue equilibrar a dualidade da protagonista manipuladora com doses de suspense que deixam os espectadores prendendo o fôlego.

    Paulson interpreta Diane, uma mãe que praticamente domina a vida de sua filha Chloe (Kiera Allen). A menina, tal como sua intérprete, é cadeirante, além de sofrer de inúmeras doenças, como arritmia e diabetes — citadas e explicadas em uma cartela no início da produção, deixando claro o quanto serão importantes no desenrolar da trama.

    Desta mesma forma, o filme deixa muito pouca margem de interpretação do público, e de certa forma duvida da capacidade de quem está assistindo. A exemplo da grande (e previsível) reviravolta do filme, que não somente é referenciada em um artigo de jornal mas também exposta novamente em um flashback solto.

    Roteiro convence com cenário improvável de adolescente presa em casa

    Netflix

    O thriller original do Hulu, que é lançamento da Netflix em abril no Brasil, deixa explícito que Diane devotou 17 anos de sua vida à filha adolescente, mas não mostra mais do que isso. À excessão do flashback já mencionado, não é mostrada a infância da menina, ou outros momentos fora do período restrito no qual é ambientado o filme. Chloe espera ansiosa pela resposta de sua aplicação da faculdade, mas parece confortável com sua vida atual: estudando em casa, no meio do nada, sem amigos, sem celular e sem acesso não supervisionado à internet.

    Trata-se de um cenário improvável que o roteiro de Aneesh Chaganty (Buscando...) e Sev Ohanian (Judas e o Messias Negro) consegue convencer, especialmente pela atuação de Paulson. A estrela entrega uma Diane tanto assustadora quanto mãe dedicada, que tem todas as respostas na ponta da língua para as perguntas inesperadas de Chloe e dos demais habitantes da pequena cidade onde moram (inclusive porque determinada medicação não é o que parece). A personagem — e o filme — buscam a todo momento humanizar a Síndrome de Munchausen por Procuração.

    Tal como em The Act e Objetos Cortantes, o relacionamento entre mãe e filha é o foco de Fuja. Na primeira metade, o longa-metragem deixa dúbio as intenções de Diane frente a Chloe; já a segunda metade é mais reveladora e escancarada, mas perde um pouco do brilho. Como suspense, tem sustos demais e poderia investir mais na sutileza. Como mistério, aposta em cenas pouco verossímeis e um final controverso.

    Kiera Allen é somente a segunda atriz cadeirante a estrelar um thriller de Hollywood

    Netflix

    Por outro lado, o verdadeiro destaque de Fuja é Kiera Allen. Ela estreia nos cinemas como uma Chloe carismática, interessada e verossímil, que supera obstáculos tanto físicos quanto mentais. Allen é a segunda atriz usuária de cadeira de rodas a estrelar um thriller de Hollywood, depois de Susan Peters no filme The Sign of The Ram de 1948. A talentosa jovem de 22 anos está quase sempre em cena, e protagoniza sequências de tensão e faz manobras com o uso limitado das pernas. Destaque para sua atuação nas cenas do telefone e da farmácia.

    Fuja é o segundo longa-metragem do diretor e roteirista Aneesh Chaganty, que não supera seu primeiro, o excelente Buscando… Contado inteiramente por telas de computador e celular, curiosamente, também era um suspense, tinha um pai superprotetor (John Cho), e apostava em representatividade, com protagonistas de origem asiática. Pode-se dizer que estas são as marcas registradas de Chaganty? Talvez. Esperemos o terceiro longa-metragem para dizer com certeza.

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