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    Virgens Acorrentadas
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Virgens Acorrentadas

    O filme que não aconteceu

    por Bruno Carmelo

    O título induz ao erro propositadamente: julgando pelas letras sangrentas do cartaz e pela imagem de líderes de torcida amarradas em algum porão, o espectador pode esperar um slasher à moda antiga, com pobres moças lindas sendo perseguidas por algum assassino com armas penetrantes. Mas como alguém ainda faria um projeto fetichista do gênero em pleno século XXI? Surpresa: “este não é o tipo de filme que você está pensando”, como também afirma o pôster. Virgens Acorrentadas não é um slasher, e talvez nem mesmo possa ser considerado terror. O foco se encontra num grupo atrapalhado de jovens que pretendem fazer um filme de terror, mas não conseguem.

    O ponto de partida, portanto, é a frustração – seja aquela de Shane (Ezekiel Z. Swinford), que possui um bom roteiro jamais produzido; da namorada Chloe (Kelsey Pribilski), que o apoia embora tenha ciúmes da estrela principal; do elenco, repleto de atores amadores; do financiador, que nunca recebe um roteiro pronto; e do espectador, que não presencia nem uma história de terror, nem uma paródia de terror. Durante mais de uma hora de projeção, os personagens sentam em suas casas e discutem o filme que gostariam de fazer, culpam o bloqueio criativo, reclamam da falta de dinheiro. A direção acredita que este grupo seja interessante o suficiente para sustentar a atenção do público durante longas cenas de inação. Quem diria que um projeto sobre terror poderia ser tão monótono?

    Os personagens constituem estereótipos simples: a prostituta, o maconheiro engraçado, o nerd medroso, o astro sensual, a roqueira descolada etc. O diretor Paulo Biscaia Filho tem plena consciência dos clichês, dos diálogos artificiais, das soluções inverossímeis, do machismo da premissa. Ele admite, através de seus personagens, que não é Quentin Tarantino, nem tem condições concorrer com O Albergue ou Jogos Mortais. Mas o projeto se engana ao acreditar que, ao admitir ser ruim, ele se transforme em algo bom. Sua autoconsciência, ou a “meta-metalinguagem”, como diz Chloe, faz do filme algo menos pretensioso, mas não menos condescendente.

    Virgens Acorrentadas solicita que o espectador não suspenda a sua descrença, ou seja, que ele esteja sempre alerta de que aquelas cenas são falsas, mal filmadas, que o sangue é excessivo, que os efeitos especiais não convencem. Isso é verdade, claro, e tamanha sinceridade pode divertir no início, porém ela impede que o espectador sinta medo nos raros momentos de matança, ou que se divirta com a piada de uma nota só. Sabemos durante toda a projeção que podem existir mais filmes-dentro-do-filme, que toda a matança pode ser roteirizada e que o morto é capaz de se levantar logo após ser decapitado. Recentemente, A Noite do Jogo extraiu uma comicidade muito satisfatória do jogo entre realidade e ficção, mas o projeto brasileiro-americano não vai tão longe: tudo é falso desde o princípio. Para que o espectador se surpreendesse com algo, ele precisaria inicialmente acreditar naquele contexto.

    O ceticismo diante das imagens é reforçado pelas atuações artificiais, pela iluminação de baixo contraste, pelos diálogos intermináveis e pela promessa de um gore que tarda a chegar. Virgens Acorrentadas parece acreditar que, quanto pior for, mais inteligente ele será. No entanto, o humor nunca se transforma em algo crítico, ou mesmo subversivo: o filme brinca com cenas de terror que desejaria reproduzir – existe evidente desejo e admiração pelo trash, com todo o seu machismo e amadorismo. Assim, o projeto não fornece nem uma imersão total via terror, nem um distanciamento completo via humor. Permanecemos no limbo de um filme sobre um filme que talvez se revele menos astucioso do que acredita ser.

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